ELIZABETH NASSER: SÍMBOLO DA LUTA FEMINISTA NO RIO GRANDE DO NORTE
Elizabeth Mafra Cabral Nasser nasceu em 1936, na Fazenda Riacho da Cruz, em São Pedro do Potengi, interior do Rio Grande do Norte. Sétima filha de uma família grande e tradicional, cresceu ouvindo de sua mãe que “mais importante do que um casamento é um bom emprego”, frase que carregou por toda a vida e transmitiu aos filhos. Desde cedo, Elizabeth se destacou pela personalidade forte, senso de justiça e desejo de transformar o mundo ao seu redor. Sua formação acadêmica foi sólida: estudou em escolas tradicionais de Natal, formou-se em Geografia pela UFRN, fez mestrado em Arqueologia e Etnologia pela UFBA e se especializou em temas ligados à antropologia e à cultura indígena.
No campo profissional, Elizabeth foi professora universitária, pesquisadora no Brasil e nos Estados Unidos, e esteve à frente de conselhos e grupos feministas como o Coletivo Leila Diniz e o Fórum de Mulheres do RN. Participou do histórico Lobby do Batom na Constituinte de 1988, lutando para garantir direitos das mulheres na Constituição Federal. Organizou eventos, publicou artigos, foi consultora do Banco Mundial e recebeu várias homenagens pelo pioneirismo e dedicação à causa feminista. Sua atuação foi marcada pela coragem, honestidade e paixão, enfrentando o machismo e a desigualdade sem jamais perder a ternura e o compromisso com a justiça social.
No ambiente familiar, Elizabeth era acolhedora, protetora e carinhosa, mas exigente com valores como sinceridade e retidão. Era comum atender ligações de desconhecidas em crise, oferecendo apoio e palavras de esperança, mostrando sua sensibilidade e empatia. Sua filha, Tariana, relembra episódios de afeto, como quando Elizabeth, durante uma apresentação escolar, gritou do público para a filha, arrancando risos e mostrando seu lado brincalhão. Em casa, Elizabeth era extremamente organizada, com tudo etiquetado e no lugar, mas também aberta ao convívio com animais de estimação dos filhos, como pássaros, cães, gatos, peixes e coelhos.
Elizabeth adorava ler, escrever, ouvir música – de MPB como Belchior –, era fã de festas, praia e do carnaval animado da Bandagália. Sua comida preferida era camarão, a cor favorita: vermelho, tinha verdadeiro pavor de injustiças e preconceitos. Gostava de celebrar aniversários das bonecas da filha, sempre incentivando a diversidade e ensinando sobre igualdade racial e de gênero desde cedo. Não tolerava qualquer tipo de desigualdade ou falta de caráter, e sua maior mania era manter a ordem em tudo ao seu redor. Para ela, a família era tudo, e o maior medo era perder o marido, seu grande amor e parceiro de lutas.
Sua trajetória é marcada por inúmeras homenagens e reconhecimentos, como medalhas, títulos honoríficos e participação em obras de referência sobre a história das mulheres no Brasil. Recebeu a Medalha Nísia Floresta, o Título de Cidadã Natalense, e honrarias de entidades acadêmicas e feministas. Elizabeth também publicou o livro “Viva a diferença com direitos iguais”, pela Editora da UFRN, e colaborou em diversos artigos e dicionários sobre a temática de gênero.
Elizabeth Nasser faleceu em dezembro de 2020, vítima da Covid-19, sem ter tido acesso à vacina. Sua partida deixou uma lacuna imensa, mas também um legado de inspiração, coragem e transformação. O exemplo de Betinha permanece vivo na memória de quem conviveu com ela e em cada conquista das mulheres potiguares, que continuam a luta por igualdade e respeito, guiadas pela força e sensibilidade de uma das maiores referências do feminismo no Rio Grande do Norte.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crô[email protected]
