DE ASAS CORTADAS –

Viajar de avião foi bom até quando foi possível, até quando deu, até quando o corpo e a alma, cansados, pediram arrego.

Viajei muito pelo Brasil, acompanhando e vivenciando congressos médicos, outras, em momentos de férias com a família e, algumas  para o exterior.

Sou um passageiro medroso e ansioso. Não consigo dar um menor cochilo durante o voo, apesar de ter conhecimento da alta tecnologia de segurança que envolve essas grandes e inovadoras máquinas voadoras.

Sempre que entrava no avião vinha a lembrança das palavras de um amigo e colega, dizia ele: “quando vejo a tripulação fechar a porta para iniciar o procedimento de decolagem, me vem à cabeça o sentimento do fechamento da tampa do meu caixão na hora do adeus”. Nunca  esqueci essas palavras! Era aí que o medo tomava conta de mim e me deixava mais ansioso.

Assisti e vivenciei algumas passagens assustadoras durante esse tempo e distâncias percorridas nas alturas.

Lembro, certa feita, um passageiro (com certeza, o seu primeiro voo), que, dirigindo-se o toalete e não identificando o aviso na porta, foi direto para a porta da aeronave e ficou fazendo força para abri-la; foi aquele tremendo reboliço, aquela tremenda aflição dos passageiros e um corre-corre frenético das aeromoças para deter o neófito, que com certeza estava com a bexiga estourando. Outra vez, na hora da preparação para servir o lanche, no recanto traseiro da aeronave, de cortina fechada, um garrafão de coca-cola caiu de cima do carrinho do lanche e estourou no piso, provocando um barulho assustador, levando susto, medo e pânico aos passageiros.

Chegando a Florianópolis, voo tranquilo, aterrissagem mais ainda, o avião já taxiando, quando abro a janelinha para apreciar o visual, vejo várias viaturas do corpo de bombeiros na pista; coração a mil  e grande tremedeira, fiquei super apavorado; ninguém no avião sabia de nada, nem menos fazia ideia de que poderia acontecer naquele momento da aterrissagem.

Ainda bem que estou contando a história. Muitos não tiveram essa mesma sorte.

Encerrei o meu ciclo voador, cortei minhas asas.

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

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