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A CUCA –

Uma sinuca de bico, eis a realidade que atormenta a sociedade brasileira. Um estado em estado de desgraça e uma sociedade sem graça. O espírito brasileiro, gozador e zoneio, se transformou em angustura e gastura. Nada para degustar, muito para regurgitar. Como se diz no nordeste – está de fazer nojo! Quando o poder estabelecido passa a ser uma ameaça à sociedade as vítimas são a democracia e a liberdade, que, no Brasil, se impõem como expressões antônimas ou, pior, sem qualquer sentido. Aliás, nos últimos anos, a história brasileira ficou sem sentido. O que se imaginava democracia virou falsidade ideológica e o que se propagava como liberdade, a institucionalização do crime contra o Estado e a sociedade. Não perdemos apenas a ética, mas a moral e vivemos a amoralidade como a única garatuja para a ilusão de que ainda temos um Estado e que esse contempla o povo.

Autoridades ineptas e cleptas e os extremos passam a ser referenciais de um povo perdido em sua própria imaturidade política: um fraco presidente fraco, um presidente da Câmara Federal sem as condições mínimas de representação da sociedade, um presidente do Senado sem estatura moral e elo de toda a criminalidade que se apossou da vida política nacional e uma Presidente do Supremo Tribunal Federal que traz algum alento à sociedade, que lhe entrega as suas nefastas esperanças, mas que teme seja tragada pela ardilosa convivência, com seus pares juízes, nem sempre sintonizados com o plural ou voltados para a República, mas com suas singularidades institucionais e simpatias pessoais e, com seus pares presidentes dos demais poderes e adeptos de podres poderes, falsidade institucional e interesses corporativos das agremiações a que pertencem e chamam de partidos políticos, mas que se mostram organizações criminosas.

E Dona Carmen está no mato sem cachorro ou, quem sabe, com cachorros demais e amestrados para atacarem qualquer movimento voltado para a libertação da sociedade das poderosas milícias em que se tornaram os homens públicos brasileiros ou a falta desses.  O uso do “p” minúsculo para citar algumas autoridades e do “p” maiúsculo para citar a MM Carmen Lúcia foi a forma sutil de mostrar o olhar da sociedade para tais autoridades que, pelos exemplos que protagonizam, seria desperdício serem citados com “p” maiúsculo. E em um país onde as minorias se tornaram falsas bandeiras, uma mulher mostra que a autoridade e ilibada cunduta não depende de gênero e se impõe como exemplo de que nossos homens estão sem serventia e o país estaria bem melhor sem eles.

A semana foi marcada por três fatos que mostram o quanto estamos entregues às baratas. Em primeiro plano, um fato banal- Renan se tornou réu em outro inquérito no STF. O que deveria ser uma notícia motivadora para a cidadania, uma prova de que teríamos um Estado, já se apresenta sem qualquer novidade, afinal ele já detém, há dez anos, uma dezena de processos no STF e que diferença fará mais um? Quem sabe para mostrar que o STF se tornou um SPA para políticos corruptos. A segunda, lamentável, a desastrosa declaração do presidente Temer sobre uma possível prisão de Lula (nada contra ou a favor) e mostrou a fragilidade de um presidente acuado em seus próprios nichos e medroso perante os fatos que assolam o país e que, mesmo com a grande possibilidade de terminar em pizza, tiram o seu sono e, com sua insônia, o sono dos brasileiros. O que esperar do Estado se está sem timoneiro ou se o timoneiro tem medo de motim.

Caro leitor, a última veio para avacalhar de vez com a República e os poderes constituídos: a prisão de Garotinho. Não entro no mérito do justo ou injusto, mas na chula comédia. Um garotinho deitado numa maca, em crise de birra, chora esperneia, invoca desculpas medíocres, pede chupeta e é presenteado com a transferência de hospital e com a prisão domiciliar. A cena foi ridícula. Não sei como autoridades se prestam a tal papel. Um cidadão comum seria obrigado a ficar no hospital público não por ser corrupto, mas por não ter opção. O garotinho, por ser acusado de corrupção, pode optar pelo hospital que quiser e que, para ele (e dezenas de outros), a jurisdição é elástica. Acho que pelo andar da carruagem, nas próximas investidas no caso Garotinho, as autoridades devem se municiar de bombons, chocolates, maracás e um bom disco do Patati & Patatá, afinal Anthony não é um preso comum, é um garotinho.

É Dona Carmen, continuo acreditando plenamente no concurso da MM, mas, ao mesmo tempo, fico com pena, em ver alguém com a sua estatura ver o Estado brasileiro se esvair por total inapetência de se mostrar minimamente sério e que não consegue manter um garotinho qualquer na FEBEM, imagine Anthony em uma cela no presídio de Bangu. Será que os carcereiros terão que fazer curso preparatório de contadores de estórias infantis para consolarem o pobre garoto, injustamente preso, em sua casa? E se de repente ele quiser fazer pipi? Os carcereiros estarão preparados? É pobre amigo brasileiro, na falta de um Estado que permaneceu na terra do nunca e nunca teve vocação para crescer, estamos dependendo da CUCA que vem pegar…

… Será que a tal Cuca é afiliada a algum partido? Já a imagino na TV, em horário nobre, com narrativas que provam que nunca assustou crianças e chamar Anthony como sua testemunha de defesa.

Nana neném, nana… é cada uma… FUI!

Adauto José de Carvalho Filho – AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, Consultor de Empresas, Escritor e Poeta.

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