COMBOS –

Um dia desses fomos a uma doceria conhecida da cidade. Já era fim do dia. Difícil de estacionar, mas com mesas disponíveis. Entramos, sentamos, pedimos o “de sempre” e pensávamos em conversar sobre os últimos acontecimentos da semana.

Isso não foi possível. A gritaria generalizada não me deixava ouvir meus próprios pensamentos, imagina se ouviria a voz de meu esposo – que fala baixíssimo!

Uma pessoa fazia chamada de vídeo aos berros. Outras quatro contavam alguma fofoca que era impossível que pessoas até três quarteirões de distância não ouvissem. Citavam nomes e sobrenomes: um perigo! Algumas crianças corriam e pulavam sobre as cadeiras enquanto eu esperava temerosa as bandejas dos garçons caírem sobre suas cabeças. Acho que eles também…

Queríamos conversar em meio àquele caos.

Testamos telepatia e percebemos que não tínhamos essa capacidade.

Pensamos em conversar pelo WhatsApp e percebemos que seria ridículo fazermos isso estando separados apenas por uma pequena mesa.

Leitura labial de frases longas seria cansativo.

Assim, cada um de nós se acomodou no seu próprio mundo. Comemos calmamente em meio ao caos generalizado.  Um sorriso fraco aqui e outro ali, quando de repente, percebi algo estranho no ar.

Era o silêncio!

As pessoas foram embora e nós precisávamos nos reacostumar a falar baixo. E a ouvir! Uma paz reinou no local. Percebi os funcionários esgotados, destruídos mesmo. Notei que havia uma música ambiente e o som do ar condicionado!

Até meus talheres faziam barulho ao tocar no prato – eu não sabia disso.

Dei um valor enorme ao silêncio!

Parece-me que é nele – no silêncio, que mais conseguimos nos ouvir.

E como precisamos disso!

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora

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