COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE TONINHO, COISAS DA FATALIDADE –
COISAS DOS ANIMAIS NO ESPIRITISMO
Gostando de animais e tentando entender coisas do espiritismo, li, que a despedida de um animal pode nos trazer dor e sofrimento, mas devemos encarar, com certas precauções.
Assim como reagimos à partida dos humanos, que queremos bem, disse o escrito, que devemos procurar não atrapalhar a adaptação da alma simples e singela do animal que partiu.
Então, se o seu “bicho de estimação”, morreu, tente se lembrar que o desencarne também é natural para ele, que continua vivo em outro plano.
Quem sabe, se em breve, ele não vai voltar à terra, para uma nova existência?
É assim que fala.
COISAS DE TONINHO
Crio animais desde criança, mas, Toninho, o nosso canário belga, era uma ave diferente.
Talvez, por ter sido um partícipe da nossa vida, convivendo no mesmo espaço, respirando o mesmo ar, dentro de um apartamento, ao invés dos quintais de antigamente.
Por conta disso, ele fazia parte das nossas conversas e até, parecia interagir.
Achávamos, que, quando estávamos arrumando “os troços”, para ir para Gameleiras, ele pressentia, e começava a se agitar na gaiola, como que, querendo chamar a atenção, para não ser esquecido.
Como esquecê-lo? Impossível.
Toninho trouxe para perto de nós, a imagem da gratidão.
Na sua incapacidade de produzir ou buscar os meios da sua sobrevivência, sabia agradecer, como poucos humanos o fazem, ou sabem.
Quando Cristina colocava o seu “jiló” – iguaria que adorava – de imediato vinha comer, quase que na sua mão, e não deixava de, entre uma bicada e outra, olhar para ela e “soltar” um canto, que dizíamos ser um “hein”, de agradecimento.
Esse “hein”, nesses momentos, entendíamos como uma expressão de alegria.
Os “papos” de Cristina com ele, eram motivos de muitas risadas.
Após cada frase que ela lhe dirigia, ele soltava o seu “hein”, agradecendo os elogios e as mensagens de carinho que ela lhe devotava.
Logo cedo, começava a cantar, saudando o nascer do dia e agradecendo por ter encontrado uma mãe e um pai, que lhe davam tanto carinho e faziam suas vontades.
Expressadas nos seus cantos e posturas, Toninho também sabia mostrar suas insatisfações.
Quando, ao invés do seu jiló, lhe era oferecido uma banda de maxixe ou pepino – que embora gostasse, não eram o seu alimento preferido – demorava a se aproximar para comer.
Aí, ao invés do seu “hein”, repetidamente cantava um dissonante e interrogativo “ti, ti ti ti”, querendo saber o “por que”?
O que dizer da sua posição de amuado? Isso se dava, quando estava num ambiente que se sentia desconfortável.
Dizia Cristina, que era a “posição de pipa”, que ele, como que cruzando as asas, ficava, com um formato triangular, parecendo uma pipa, solta aos ventos.
COISAS DA MORTE
Quiz o destino, que TONINHO fosse encontrar a morte, onde mais gostava de ir, para viver, e que dizíamos ser a sua casa de campo.
Afinal, TONINHO, além do seu apartamento na cidade, cujos “senha-açu” ou “sanhaços”, eram os seus habituais companheiros, também tinha sua casa de praia, onde saudava ao amanhecer, os “bem-te-vis”, e alegrava os dias, na Praia da Barra do Cunhaú.
Porém, nada lhe fazia tão feliz, como ver o sol nascer, na sua casa de Monte das Gameleiras, cujas madrugadas, anunciava estar chegando, de sua janela de vidro, voltada para a bela paisagem serrana da sua casa de campo.
COISAS DA FATALIDADE
Embora sabedores da agressividade dos saguins, contrastando com o seu aparente e carinhoso olhar, não imaginávamos a possibilidade de que eles viessem a se constituir em perigo para Toninho.
Ledo engano. Num momento de descuido na atenção de sua proteção, ele foi atacado, morto e devorado.
Coisa que, embora possa ser naturalmente creditada aos animais selvagens, não aceitamos como coisa normal, se voltada, contra aqueles que amamos.
Hoje, dentro dos barulhos da cidade, do som das ondas do mar ou do silêncio do campo, escuto o seu canto alegre, como que, me dizendo que a vida continua, e que devemos agradecer a Deus, tudo o que ela nos dá, e até entender, como normal, o que pode ser triste.
EXPEDITO NA CONVERSA
Terminando de relatar esses fatos, que Expedito ouviu, em silêncio, escuto dele um veredicto: É Dotô, acim, tombém, ção todas as coisa da vida.
O qui acunteceu cun o sinhô, foi o excesso de confiança, pra tê a liberdade de impossuir uma coisa qui lhe fazia tão filiz.
As minina da facurdade fala de um tá de Thomas Jefferson, qui dizia qui “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.
Até mais vê Dotô.
Ixcrusive, as noite aqui nu Siridó, tão fria, e eu vou tumá uma lapada da cana, azúlada cum clitória, prá infrentá as água fria do banho.
Como não desliga o celular, escuto ele dizer: Ô Cristina, veija os queijo de qualho qui eu butei no telhêro, pra levá o serêno da noite.
Vamo arretirá pru mode os gato num cumê.
Veija o qui dixe o tá de Jeférson, sobri a vigilânça.
Ô cachaça boa. Imparece mais doce, quando bota a fulô clitória dentro.
Ô fulôsinha di bôas parênça!!!
Antonio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]
