CIDADANIA: MAIS DO QUE UM DIREITO UMA RESPONSAPOBILIDADE –

A cidadania, em sua essência, é muito mais do que um conceito jurídico ou uma formalidade garantida por documentos oficiais. Ela se traduz no exercício diário de direitos e deveres, em um compromisso permanente com a coletividade e em uma postura ética diante das escolhas que impactam o futuro comum. No entanto, no Brasil, é notória a fragilidade dessa consciência cidadã, o que se reflete em nossa política, em nossas instituições e, sobretudo, em nossas relações sociais.

1. A consciência adormecida
Muitos cidadãos ainda percebem a política como um campo distante, reservado apenas a governantes e representantes eleitos. Essa visão reduzida ignora que a democracia só se fortalece com a participação ativa do povo, que deve fiscalizar, cobrar, propor e agir. A ausência dessa consciência cria um terreno fértil para abusos, corrupção e a perpetuação de práticas que enfraquecem a confiança coletiva.

Além disso, a indignação popular costuma ser seletiva: manifesta-se com força diante de determinados fatos, mas se cala em outros, quando o problema parte de figuras ou grupos com os quais se identifica. Essa contradição revela uma cidadania parcial, que se move mais por paixões momentâneas do que por princípios sólidos.

2. A falta de sensibilidade cidadã
A sensibilidade cidadã exige que vejamos no outro a mesma dignidade que desejamos para nós. Entretanto, ainda é comum observarmos comportamentos individualistas: a corrupção “aceitável” quando favorece um grupo próximo, a injustiça “tolerada” quando não atinge diretamente, ou mesmo a violência banalizada quando não nos alcança.

Essa lógica alimenta um ciclo de omissão, onde o interesse coletivo é substituído pelo imediatismo e pelo ganho individual. Sem empatia e sem sensibilidade social, não há cidadania plena, mas apenas a reprodução de desigualdades e injustiças.

3. O peso das escolhas cotidianas
A cidadania não se esgota no ato de votar. Ela se expressa nas pequenas decisões diárias: respeitar o espaço público, obedecer às regras de trânsito, agir com ética no trabalho, participar de associações comunitárias, dialogar de forma respeitosa e combater práticas discriminatórias.

Cada gesto individual, ainda que pareça pequeno, contribui para moldar a sociedade. Um país mais justo não depende apenas de grandes reformas estruturais, mas da soma de comportamentos conscientes, capazes de inspirar confiança e fortalecer os laços sociais.

4. Um chamado à reflexão
O que nos falta, muitas vezes, não é capacidade, mas vontade de exercer a cidadania de forma plena. O Brasil não será transformado apenas pela ação de governantes ou instituições, mas pela soma de cidadãos que compreendem que participar é dever, cobrar é obrigação e respeitar é condição básica para viver em sociedade.

O desafio está em despertar essa consciência coletiva, substituir a indignação seletiva por uma postura ética permanente e resgatar a sensibilidade para enxergar o outro como parte essencial do todo.

Conclusão
A cidadania é, antes de tudo, um ato de responsabilidade. Ela não pode ser terceirizada nem reduzida a discursos. É uma construção contínua, que depende do compromisso de cada indivíduo com o bem comum.

Se quisermos um país mais justo e democrático, precisamos compreender que a verdadeira mudança começa dentro de nós, em nossas escolhas, em nossa forma de agir e no modo como tratamos o outro.

Cidadania não é apenas um direito. É, sobretudo, consciência.

 

 

 

 

 

Raimundo Mendes Alves – Advogado e vereador

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