CHEGANDO AO FIM DO ANO –
Não que eu seja radical ou quadrado. Não me considero nenhum dos dois. Mas um dia você olha o espelho e vê que está velho. Se descobre, de repente, um macróbio em involução biológica. E cai na real. Logo diante dele, onde a gente só nota o que quer. Ou quando você vê as nuvens passando no céu e subitamente elas começam a assumir outras formas. Difícil dizer se são elas ou as nossas cabeças que estão a realizar a façanha. Ou quando numa manhã você acorda e descobre que não mais gosta tanto de alguém.
Gratuitamente. Mas só na aparência. Pois tudo na montanha russa da vida é previsível. Tudo é cálculo. Tudo é soma. Tudo é subtração. Multiplicar e dividir. A partir do ângulo onde os acontecimentos são analisados. Não mais um bigode escuro e espesso. Ou o passo antes firme, agora trôpego. Ou a memória a curto prazo começando a ir pra cucuia. Ou a constatação da batalha dos seios femininos a perder terreno contra a gravidade.
Embora o último fenômeno eu achar desprezível; até hoje, nunca vi uma fêmea nua, em decúbito dorsal, cujas mamas independentemente de tamanho ou formato que não sejam belas. Um claro exemplo da estética a sobrepujar as agruras da anatomia de superfície. Como olhar na praia num fim de tarde ondas cegas que surdem em surtos. E nos arrecifes se ceifam. E surdas , na espuma, num funeral de espigas mergulham. Oferecendo à luz dos olhos unissonantes sons sem palavras.
Daí uma boa ideia alternativa de encarar a felicidade: olhar de determinado ângulo e ser leve para si mesmo. Ir até a raiz quadrada da questão. Visualizar o radical , o índice , somar as unidades numéricas do radicando e , no caso, dividir por dois.
A radiciação das coisas existe. Uma operação matemática que consiste em encontrar um número que, quando elevado a uma potência, resulta em um outro.
Às vezes, segundo eles, os matemáticos, dependendo da habilidade de cada um, sem haver necessidade de consultar qualquer tabela. De repente estou a me tornar um velho raiz. Quadrado.
José Delfino – Médico, poeta e músico
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