CARNAVAL MINIMALISTA –

Passo de uma sugestão a outra, procurando o que assistir. Netflix hoje é a minha locadora dos anos 1980, com as estantes distribuídas por faixas rotuladas por estilos: comédia, romance, documentário, vida real. E com a vantagem de não precisar rebobinar e devolver os filmes na quarta-feira pós-carnaval até 19h! Sim, sou saudosista…

Paro diante de um novo documentário: Minimalismo já. Tenho assistido a vários programas sobre este tema e a cada vez me surpreendo como eu poderia viver com menos e não consigo. Assim, fiz inúmeras anotações mentais de coisas que preciso mudar. Mais uma vez!

Lembrando de tudo que aprendi, vejo-me com 3 caixas: manter, jogar fora e doar. Por onde começar? Já havia feito uma bela faxina para iniciar o ano, mas me parece que ainda tenho muito, que temos excessos.

Venho para a gaveta de CD e DVD e chamo Flavinho:

– O som do carro tem tocador de CD?

– Não mais!

– E aqui em casa? Temos algum aparelho para tocar os CDs? São mais de cem…

Ele para um pouco, a testa enrugada:

– Nenhum computador ou aparelho de som!

Era isso! Uma gaveta abarrotada com nossas coleções. Trilhas sonoras de filmes e novelas, bandas nacionais e internacionais, tango, clássicos… Tudo isto temos a um toque no Spotify. Separo apenas as coleções completas de Beatles e Marisa Monte e todos os outros vão para a caixa de doação.

Assim como um videogame e seus jogos guardados sem utilidade por filhos que não abrem mão dos jogos nos computadores.

Continuo no outro dia. Olho a quantidade louca de toalhas de mesa, jogos americanos, sousplats e guardanapos de pano de diversas cores. Frutos da pandemia.

Ao perceber que os momentos mais aconchegantes no período de lockdown eram ao redor da mesa, fiz diversas compras online para deixar nossa mesa linda e acolhedora. Por isso, além destes itens, temos uma quantidade surpreendente de pratos, xícaras e taças que inundaram nossa cristaleira.

Isto cansa!

Esta luta constante entre o “preciso ter” e o “para que tanta coisa?”. Cansa…

Aos poucos vou procurando o equilíbrio, tentando por em prática aquilo que me parece coerente. Enquanto separo 18 toalhas de mesa sem uso para doar, lembro que papai sempre me dizia quando, eu adolescente, reclamava que não tinha roupa para sair (quem nunca?). Ele ria e repetia seu mantra:

– Beloca, você tem dois pés. Para que mais de dois pares de sapatos? Um para sair e outro para ficar em casa. Para que mais roupas?

Eu ficava com raiva por ele não entender as minhas necessidades consumistas.

Hoje vejo que ele sempre foi um visionário, à frente do seu tempo com as ideias minimalistas que hoje fazem tanto sucesso e enchem uma faixa da Netflix com opções de títulos e vídeos no YouTube ensinando como se desfazer de toda a tralha que passamos uma vida juntando…

Papai não ganhou dinheiro com sua teoria, mas me ensinou através de exemplos que eu não preciso de muito para ser feliz. Pena que a gente desaprende quando cresce, engolidos pela loucura do mundo.

Mas, graças a Deus!, é só fechar os olhos e ouvir a voz dele para entender o caminho certo a seguir.

Não é fácil. Também não é impossível.

Amanhã irei para outra gaveta e outra e outra… Sem pressa! Até que o necessário seja suficiente para me dar felicidade e o excesso entre em outra casa para se tornar o suficiente a esta família…

Cada qual com o seu estilo de Carnaval…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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