Valério Mesquita*
01) O escritor e folclorista Veríssimo de Melo, o nosso saudoso Vivi, certa vez, autografava placidamente o seu livro numa noite verânica e perdida da cidade. Nisso, se depara com o então major do Exército Cleanto Siqueira, seu amigo, para o procedimento de praxe. Autógrafo do acadêmico, presenciado por Diógenes da Cunha Lima: “Ao Major Cleanto, herói de Monte Castelo e do Restaurante Universitário, oferece, Vivi”.
02) Vivia-se o tempo áureo da UEB, a extinta União de Empresas Brasileiras que instalou em Natal o Hotel Ducal, a Sparta Confecções, a Seridó Tecidos e a Incarton. Na Sparta, fabricante de camisas, pontificava como diretor o nosso Manoel de Medeiros Brito, o Brito Velho de guerra. Para conhecer as instalações, convidou o jornalista João Batista Machado, que levou de contrapeso o colega Aluízio Lacerda. A fidalguia de Brito tem o selo da fartura de Jardim do Seridó. Após os drinks e sucos regionais, o almoço foi servido com direito, ao final, a charutos odoríficos e fumegantes. Por fim, chegaram à imensa sala das máquinas onde o labor das costureiras explodia no ar um frenético torvelinho de vozes e ruídos mecânicos. Machadinho, já conhecedor da proverbial “queda de asa” de Brito pelo mulheril, provoca curiosamente o seu cicerone: “Brito, e as mulheres aqui?”. Sem perder a postura e como se informasse um detalhe fabril, detona: “É de médio a refugo…”.
03) Burrego, era motorista e compadre do ex-prefeito de Mossoró, advogado e grande orador Raimundo Soares. Para ser motorista do tipo boêmio do Dr. Raimundo tinha que dar nó em pingo d’água. Certa noite, o alcaide, como diria Dix-Huit Rosado, não dispensou cedo os serviços de Burrego. “Compadre, vamos jogar umas partidas de pif-paf”, convida o prefeito. “Dr. Raimundo, me dispense por essa vez”. “Não”, retruca o admirável político mossoroense. “Mas, doutor, eu não tenho dinheiro”, responde Burrego para pôr fim ao convite. “Então eu empresto”, insiste o inigualável tribuno, e fim de papo. Bebidas, cigarros, lanches, batidas, tudo que o jogo de baralho permite, entraram pela madrugada. Foi aí que Burrego, saturado, saiu-se com essa, após um longo bocejo: “Dr. Raimundo, vamos terminar a brincadeira porque eu tenho mesmo que ir embora, pois a sua comadre lá em casa é como papel de bodega, só dorme com um peso em cima”. E deu certo. Para Raimundo Soares só uma tirada espirituosa desarmava a sua invejável inteligência.
04) À época do macartismo, ou da caça aos comunistas, o saudoso Djalma Maranhão tinha uma maneira hilária de se divertir com os amigos, mesmo nos instantes de tristeza e saudade. No velório de um simpatizante comunista, Djalma mexia com os nervos de alguns natalenses quando afirmava, categórico, aos assinantes do livro de presença: “Rapaz, você acabou de se inscrever no Partido Comunista. Com o seu aval, agora a coisa vai!!”. Alguns, com medo, chegavam a examinar, detidamente, o cabeçalho do livro de pêsames.
(*) Valério Mesquita – Escritor ed Presidente do IHGRN [email protected]
