AUTOEMPREGO, A CILADA PARA EMPREENDEDORES. ENTENDA O QUE É E COMO EVITÁ-LA –
Em um mercado que muda rápido e empurra as pessoas para caminhos cheios de incerteza, muitos acabam acreditando que empreender sozinho é sinônimo de liberdade e controle da própria renda. A realidade costuma ser bem diferente. É fácil tratar o fee mensal de um cliente como salário. Assumir o operacional e esquecer a administração e a proposta de valor do negócio. O empreendimento acaba virando autoemprego e se torna apenas uma alternativa de trabalho precarizado (sobrecarrega e não oferece qualquer benefício).
A discussão sobre autoemprego e precarização do trabalho não é nova, mas nunca foi tão urgente.
O economista Guy Standing chama a atenção para isso ao descrever o precariado, um grupo de trabalhadores que vivem sem proteção, sem renda previsível e sem rede de apoio. É um retrato que lembra muita gente que tenta empreender sozinha, dependente de poucos clientes e de jornadas que consomem praticamente o dia todo.
O antropólogo David Graeber aprofunda a reflexão ao mostrar como o mundo do trabalho cria ocupações que parecem libertadoras, mas que mantêm as pessoas presas a estruturas de alienação. É o caso de quem acredita ter conquistado autonomia, mas descobre que apenas trocou um chefe por uma rotina interminável de demandas operacionais.
O sociólogo Richard Sennett também ajuda a iluminar esse cenário ao falar sobre a corrosão do caráter. Segundo ele, a flexibilidade tão celebrada no capitalismo moderno pode fragmentar identidades e carreiras, deixando tudo mais instável. Isso descreve perfeitamente o trabalhador que acredita estar empreendendo, mas vive uma forma ainda mais frágil de trabalho.
Essas análises mostram por que tantos profissionais caem na ideia romântica de ser o próprio chefe, quando, na prática, acabam reproduzindo condições que misturam informalidade, hiperexposição e esforço sem descanso. O autoemprego vira um ciclo difícil de romper, especialmente quando depende de poucos clientes e do tempo limitado de quem faz tudo sozinho.
Mas existe outro caminho. Ele começa com três movimentos simples, embora desafiadores, que ajudam a enxergar a própria rotina com mais clareza e intenção.
- Diagnosticar dependências e o uso real do tempo
O primeiro passo é entender quem sustenta sua renda e quanto do dia é consumido por tarefas operacionais. Muitas pessoas acreditam que estão empreendendo, mas na verdade vivem aprisionadas no mesmo formato de sempre, só que sem direitos e sem previsibilidade.
- Redesenhar o modelo de trabalho
Revisar ofertas, ajustar preços e diversificar canais permite romper com o ciclo de serviços que não escalam. Mesmo pequenas mudanças podem abrir espaço para uma rotina mais leve e sustentável.
- Criar sistemas que libertem da operação
Automatizar o que se repete, delegar atividades e padronizar processos é essencial para que o trabalho não dependa exclusivamente do tempo de quem executa tudo. Um negócio cresce quando deixa de ser apenas esforço individual.
Ao enfrentar essas questões com honestidade, muitos profissionais conseguem transformar suas rotinas, recuperar autonomia real e construir uma relação mais saudável com o próprio trabalho, aprofundando sua noção e prática de empreendedorismo. Uma contribuição real para si mesmo, para o mercado e para a sociedade, que ganha, sem dúvidas, um negócio com potencial de inovação para resolver suas dores e problemas.
Jussara Goyano – Comunicadora, mentora de empreendedores e profissionais liberais. Apresenta o Podcast JG TV, no YouTube e no Spotify (http://bit.ly/JGTV_YT). É autora de Autoemprego: quando ser seu próprio chefe vira uma armadilha (2025, Ponto A Editora, 64 páginas – em pré-lançamento)
