VALÉRIO MESQUITA 1

Histórias que o Ticio nos Contou – I

O jornalista Ticiano Duarte juntamente com João Batista Machado são, sem sombra de dúvidas, os melhores memorialistas da história política do Rio Grande do Norte na atualidade. Machadinho já conta com vários livros, todos versando a contemporaneidade política. Ticiano através de livros e de jornais pesquisou grande parte dos episódios da vida pública norte-riograndense. Aqui. desejo destacar o esplêndido trabalho do meu primo, cuja memória reverencio, reproduzindo algumas histórias do folclore político e social do Estado, as quais me foram narradas por ele próprio, em conversas e encontros inesquecíveis.

01) Como jornalista da Tribuna do Norte, ele cobria os trabalhos da Assembleia Legislativa lá pelos idos dos anos cinquenta. No plenário engalfinhavam-se o PSD e UDN. De repente, irrompe uma acalorada discussão entre deputados dos dois partidos. O que, não era coisa rara, aliás. Na bancada do PSD, o deputado do agreste José Lúcio, tal como um acrobata, inopinadamente, salta da cadeira ao lado do colega Segundo Saldanha, ao vê-lo empunhar um revólver. Serenados os ânimos, impressionado com “o pulo do gato” o repórter quis saber de José Lúcio aquela proeza. “Eu sei lá do que poderia vir da bancada do lado de lá”, explicou o “coroné”. Só que os udenistas da linha de frente eram os plácidos parlamentares Mariano Coelho, Cortez Pereira, Djalma Marinho, etc. Não matavam nem uma mosca.

02) Quem não se lembra do famoso e vibrante vespertino “Folha da Tarde”, do irrequieto e irreverente prefeito pro tempore de Natal Djalma Maranhão? Em seu jeep do tempo da Segunda Guerra Mundial, denominado “Furamundo”, percorria as ruas de Natal dia e noite. Certa vez, acompanhado do seu auxiliar direto Ticiano Duarte, chega ao Grande Ponto, que ainda estava de plantão para o tradicional bate papo lá pelas 23 horas. Quando trafegava na praça de automóveis Hillman flagra alguém, de paletó e gravata, fazendo xixi entre as ruas Princesa Isabel e João Pessoa. Aí exclama em alto e bom, som como se quisesse lavrar o flagrante: “Mas, Antônio Soares, você, chefe da Casa Civil do governo, mijando em pleno Grande Ponto?”. “Mas Djalma, já é tarde da noite e não tem ninguém por perto”, retrucou assustado o secretário. Dali, Djalma seguiu para a Peixada do Arnaldo nas Rocas, afirmando em todo o percurso que iria publicar o fato no seu jornal, apesar dos sucessivos apelos em contrário de Ticiano: “Djalma, Antônio Soares é um homem bom e não faz mal a ninguém”. Entretanto, em termos de teimosia Djalma não tinha competidor. No dia seguinte, a “Folha da Tarde” estampava na sua primeira página, em letras garrafais: “Atentado ao pudor. Chefe da Casa Civil foi flagrado na madrugada urinando na via pública”. Ao tomar conhecimento, Antônio Soares Filho, com a sua proverbial bonomia, descartou: “Besteira de Djalma. Isso é porque ele gosta de mim….”.

03) Armando Lima Fagundes, emérito tabelião público, notório e notário, macaibense de carteirinha e certidão, é o dignitário maior da maçonaria do Rio Grande do Norte e o seu grande benfeitor. Alguém pode imaginar que essa posição superior é apenas de fachada. Não. Ela enfeixa grandes responsabilidades no mundo intangível da ordem. Muito mais do que sonha a vã filosofia dos neófitos. Armando é admirado e respeitado pela maçonaria brasileira. Essa atividade, ninguém se engane, além de exaustiva, ele partilha com a do seu cartório, onde bate ponto diariamente. Certo dia, foi desabafar com Ticiano Duarte, grão-mestre do Grande Oriente Independente do Rio Grande do Norte o seu cansaço: “Ticiano, eu não suporto mais essa atividade intensa da Maçonaria. Vou deixar tudo para você tomar conta”. Percebendo cavilação nas palavras de Armando, Ticiano não se fez de rogado: “E o cartório também, Armando?”. O bufo do tabelião foi digno de registro no livro de títulos e documentos.

Na próxima semana me reportarei outros causos narrados por Ticiano.