Violante Pimentel –
De acordo com a mitologia grega, Orfeu era filho do deus Apolo e da ninfa Calíope. Do pai, ele recebeu uma lira que, uma vez tocada por suas mãos, revelava um canto tão sublime, que chegava a hipnotizar pessoas, animais e até árvores e montanhas.
Orfeu e Eurídice se apaixonaram e se casaram. Ao casamento esteve presente Himeneu, para abençoar a união, mas o fumo da sua tocha fez lacrimejar os noivos, o que não trouxe augúrios favoráveis. Orfeu foi vítima de um grande infortúnio. Uniu-se à amada Euridice, que, num certo dia, fugindo do pastor Aristeu, pisou numa serpente venenosa, que lhe mordeu o pé e lhe provocou morte instantânea. Desde então, Orfeu procurou em vão se consolar, enchendo as montanhas da Trácia com os sons da sua lira cheia de magia. Mas nada podia diminuir a sua dor nem a lembrança de Eurídice, que o perseguia em todas as horas.
Não suportando viver sem ela, Orfeu resolveu ir buscá-la nas sombrias paisagens onde habitam os corações indiferentes aos apelos humanos. Os espectros dos que vivem sem luz correram para ouvir os acordes melódicos da sua lira, silenciosos como pássaros dentro da noite. As serpentes que formavam a cabeceira das Eríneas (personificação de vingança) deixaram de silvar e o Cérbero, o monstruoso cão, aquietou o abismo de suas três bocas. Abordando, finalmente, o inflexível Rei das Sombras, Orfeu obteve a permissão de retornar com Eurídice ao Sol. Porém, seu apelo só foi atendido, com a condição de que não olhasse para trás, para ver se sua amada o seguia. Mas no instante em que iam respirar o claro dia, a inquietude do amor perturbou o infeliz amante. Ansioso para ver Eurídice, Orfeu voltou-se, e, com um só olhar que lhe dirigiu, perdeu-a para sempre.
As Bacantes ou Mênades, revoltadas com a fidelidade de Orfeu à amada desaparecida, a quem ele buscava perdido em soluços de saudades, atiraram-se contra ele no meio da noite, jogaram-lhe dardos e esquartejaram o seu corpo. Mas as Musas, a quem o músico tão fielmente servira, recolheram seus despojos e os sepultaram ao pé do Olimpo. Sua cabeça e sua lira, que haviam sido atiradas ao rio, a correnteza jogou-as na praia da Ilha de Lesbos, de onde foram recolhidas e guardadas. As Bacantes ou Mênades foram punidas pelos deuses: Assim que saíam do rio, seus pés começaram a se tornar parte da terra, e quanto mais elas tentavam tirá-los, mais eles se enroscavam… Até que elas se transformaram em árvores. E ficaram sendo açoitadas pelos ventos, furiosos pela morte de Orfeu.
Quando Orfeu tocava sua lira, os pássaros paravam de voar, os animais selvagens tornavam-se dóceis, e os deuses e mortais emocionavam-se com a beleza de suas melodias. Orfeu foi um dos cinquenta homens que atenderam ao chamado de Jasão, ou seja, foi um Argonauta.
Os argonautas, na mitologia grega, eram tripulantes da nau Argo, que, segundo a lenda grega, foi até a Cólquida (actual Geórgia) em busca do Velo de ouro (ou Velocino de ouro).
O velo de ouro ou tosão de ouro (chamado ainda de velino ou velocino de ouro), na mitologia grega, era a lã de ouro do carneiro alado O Velocino de Ouro era a pele de um carneiro que possuía dons especiais como falar e pensar, tinha os pêlos de ouro e podia voar. Esse carneiro foi um presente de Zeus, o rei dos deuses, a Néfele, mãe de Frixo e Hele, que fugiram voando nesse carneiro até a Cólquida, no mar Negro.
Conta o mito que Éson havia sido destronado por Pélias, seu meio irmão. Seu filho Jasão, exilado na Tessália, aos cuidados do centauro Quiron, retornou ao atingir a maioridade, para reclamar o trono que por direito lhe pertencia. Pélias, então, que tencionava livrar-se do intruso, resolveu enviá-lo em busca do Velocino de Ouro, tarefa muito arriscada. Um arauto foi enviado por toda a Grécia, a fim de agregar heróis, que estivessem dispostos a participar da difícil empreitada. Dessa forma, aproximadamente, cinquenta jovens se apresentaram, todos eles heróis de grande renome e valor. Cada um deles desempenhou na expedição uma função específica, de acordo com suas habilidades.
A Orfeu, por exemplo, que tinha o dom da música, coube a tarefa de cadenciar o trabalho dos remadores e de, principalmente, sobrepujar com sua voz, o canto das sereias que seduziam os navegantes. Argos, filho de Frixo, construiu o navio e por isso, em sua homenagem, a embarcação recebeu seu nome. Tifis, discípulo de Atena na arte da navegação foi designado piloto. Morto na Bitínia, foi substituído por Ergino, filho de Posidon. Castor e Pólux, gêmeos, filhos de Zeus e Leda, atraíram a proteção do pai, durante a tempestade que a nau foi obrigada a enfrentar. Destacavam-se, ainda, entre os heróis: Admeto, filho do rei Feres; Idmon e Anfiarau, célebres adivinhos ; Teseu , considerado o maior herói grego; Hércules, que não completou a expedição; Etálides, filho de Hermes que atuou como arauto; os irmãos Idas e Linceu e, é claro, Jasão, chefe e comandante da expedição.
Era Orfeu quem apaziguava as brigas do navio com a sua música, e foi ele também quem livrou os outros Argonautas e o próprio Jasão do canto das sereias, porque tamanhas eram as propriedades de sua música, que as próprias sereias silenciavam seu canto para ouvir o músico. De certo modo, matou as Sereias, já que ninguém poderia passar por elas.
Após perder Eurídice, Orfeu recusou-se a tomar qualquer outra mulher por esposa. Morreu obcecado pela ideia de trazê-la de volta à vida.
Na mitologia grega, os Campos Elísios é um lugar do mundo inferior e dos mortos, governado por Hades.
Conta-se que, após a morte de Orfeu, os pássaros cantaram mais felizes, pois o músico estava feliz, outra vez, com a sua amada.
Violante Pimentel – Escritora
