APENAS UM SONHO –
É, foi apenas um sonho, mas um bonito sonho. Sonhei que entrava no túnel do tempo e por ele começava a viajar. Era um domingo. Lembro-me que fui ao programa de auditório na Rádio Poty “Domingo Alegre” cujo comandante era o “Cacique” Genar Wanderley. No sábado já tinha assistido “Vesperal dos Brotinhos” sob a tutela de Luiz Cordeiro. Depois segui para a Praia do Forte, ao meio dia para Areia Preta almoçar um peixe no “É Nosso”. De lá fui assistir o futebol.
Cheguei ao velho Juvenal Lamartine. Era um jogão, a seleção do Rio Grande do Norte contra a seleção do Ceará. Vejo o trio de árbitros formado por Gevanir de Freitas auxiliado por Afrânio Messias e Luiz Meireles. Entra o time do Rio Grande do Norte, na frente Ribamar como goleiro, seguido dos zagueiros Toré e Biró, a linha de halfs Badidiu, Abel e Mauro, o ataque Mota, Juarez, Saquinho, Jorginho e Gilvandro.
Lembro-me que tinha um senhor já de idade, que vendia em uma caixa, refrigerantes, e gritava. – coca cola e guaraná, o resto do Estádio respondia em coro – bota esta merda pra lá. Lembro-me que das populares gritávamos com a geral – fala frasqueira da geral. Nossas mães é que pagavam a conta. Não sei o escore, era uma festa.
Depois fui ao Grande Ponto, era quase noite. Passei na Lanchonete Dia e Noite pedi uma cartola ao garçom “Gasolina” e ouvi Aldair Soares o famoso “Pau de Arara” cantar Cajueiro doce.
Segui para o papo na Praça Kennedy. Fico vendo o desfile de carros: Sinca Chambord, DKW, Jeep Willys, Vemaguet, Fusca, Rural, Aero Willys e outros. Nos cinemas os cartazes de filmes com Rin Tin, Lessie, A última carroça, E Deus criou a mulher, Um corpo que cai, Matar ou morrer, Casa blanca. Com artistas como John Wayne, Alan Ladd, Bing Crosby, Charlton Heston, James Stewart, Humphrey Bogart, Frank Sinatra, Janet Leigh, Joan Crawford, Kim Novak, Doris Day, Ava Gardner, Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Claudia Cardinale, Sophia Loren, Catherine Deneuve, Oscarito, Grande Otelo, Eliane e muitos outros.
Olho pras vitrines das lojas e vejo calças de Nycron, Durabem, Tecidos Sanforizados, Tergal, Banlon e as famosas Calças Far West. Para as mulheres, anágua, combinação e califon. Passam as lambretas, as Vespas e Berlinetas, não eram alternativos, eram as marinetes ou lotações, não tinha Rádio Patrulha, era a Tintureira. Eu estava no passado, lá se tocava Rock, Twist, Hully – Gully, Iê – iê – iê, mas tinha também Bossa Nova que eram bem tocadas nas matines de América, ABC e Atlântico. No carnaval o único doping era além da bebida as lanças perfumes Rodouro.
Vou caminhando pela Av. Deodoro até a AABB. Lá encontro umas das figuras mais notáveis que conheço. José Augusto Bezerra, nosso querido Zé Augusto ou seu Zé, comandando o time de basquete, chamando carinhosamente todos os moços de “velho”. Um celeiro de craques. José Moacir de Albuquerque, Paulo Cunha, João Felinto, Gualter Sá, Nilo Machado, Mosquito, Fernando Guerreiro, Roberto Siqueira, Luiz Jorge leal, entre outros que muito honraram o esporte amador em nossa cidade.
No passado era legal, as moças usavam saias plissadas, vestido tubinho e cortavam cabelos curtinhos com franjas na testa. O barato era ver as saídas dos Colégios: Imaculadas da Conceição, Das Neves, a entrada do Atheneu, e aos domingos a folga da Escola Doméstica, estes os mais cotados. Os mais velhos usavam, linho, camisas Lunfor, sapatos Clark de cromo ou Passo – Doble. A camisa era Volta ao Mundo. As farmácias vendiam: Regulador Xavier – A saúde da mulher, sabonetes Gessy, Lifebuoy ou Eucalol, brilhantina Glostora, Água Rubinat, Bromil, Capivarol, Arnica, Phimatosan, Capiloton, Pílulas de Vida do Dr. Ross e Robusterina “a saúde feminina”.
Tinham os “assustados” onde se bebiamVermuth, Martine, Cinzano, Rum Montila ou Bacardi, whisk Drurys. As músicas tocadas em radiolas. Os long – play, tocando para dança Valdir Calmon, Paul Muriat, Glenn Miller, Renato e Seus Blue Caps.
Depois vou até o cais Tavares de Lira fazer a travessia do rio Potengi, em um bote a vela comandado por Janjão, Gonzaga ou Ferrinho, ou nas lanchas de Luiz Romão.
Desci no trapiche da Redinha, vou até o velho mercado, tomar cachaça com tapioca e peixe frito, lá no bar dos amigos Geraldo e Dalila e seguir até o Ridinha Club para a tradicional festa do Caju, a aonde me vem à lembrança da casa de Antônio Barra Maia, meu bom tio Pitota, com quem aprendi muitas coisas boas na vida.
No passado tudo era melhor, até os políticos tinham vergonha. Havia um ou outro que o povo o taxava de ladrão ou venal. Hoje é diferente Ali Babá perde de longe, são verdadeiras quadrilhas. Eleições para órgãos de classe, como FIERN, OAB e outros, eram feitas na maior harmonia, e muitas vezes, cabia ao perdedor pagar uma farra para o vencedor. A amizade estava acima de tudo, era tudo diferente. Éramos mais sinceros, mais amigos, mais decididos, mais corajosos, mais honestos, mais humanos.
Acordei, vejo que foi apenas um sonho, tudo desapareceu, ficou na lembrança. Caio no desencanto do presente, mas, logo percebo que no presente tenho a alegria de ter uma família, de ter amigos. Volto a sorrir, levanto-me vou até o jardim e começo a cultivar as rosas, pois aprendi que, o meu jardim para ser saudável, depende do meu cultivo, do meu carinho. Ele tem passado, presente e futuro, todas as rosas são belas, independente da cor ou forma. Foram plantadas por mim.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor
