AMOR OU PAIXÃO –
Ao fazer 15 anos ganhei de um paquera um LP de Beto Barbosa. Hoje ninguém diz paquera, né? São ficantes, crunchs ou sei-lá-mais-o-quê! Ganhei o LP que me fez dançar sozinha em meu quarto milhões de vezes, ensaiando para a próxima festinha. Estava no auge da lambada, dos forrós, dos xotes. Tive aulas particulares de lambada, o que tira gargalhadas de meu esposo e filhos, mas era uma delícia rodopiar o corpo sem me preocupar com labirintite, dor na lombar, torcicolo… Festas todos os fins de semana. Geralmente, mais de uma! Quase sempre seguiam o mesmo padrão: as meninas levavam comidinhas e os meninos levavam bebidas. Nesta época, a bebida era refrigerante. Só uns dois ou três anos depois elas foram substituídas por bebidas alcoólicas, que nunca fizeram parte de minha vida.
Gostávamos de ouvir Beto Barbosa e Eliane, a Rainha do forró. Se me perguntarem como é o rosto desta Eliane não sei dizer. Não a reconheceria mesmo sem máscara e conversando com ela na fila do banco para sacar dinheiro. Aliás, sacar dinheiro? Faz muito tempo que não faço isso… As facilidades do PIX… Mas, as músicas dela… Até hoje sei de cor. Algumas vezes me pego cantarolando a música AMOR OU PAIXÃO, mesmo três décadas depois:
Morro de ciúme
Ao ver você falar com outro alguém
Reclamo, ignoro
Essa situação não me faz bem
Pergunto e repergunto
Novamente pro meu coração
Será amor, oh, oh, oh, oh, oh
Ou será paixão?
Hoje recordei que, em uma reunião com jovens na igreja, uma garota me disse:
– Acho que quero alguém para mim que faça meu coração acelerar, minhas pernas tremerem e o suor escorrer. Amor é assim, não é?
Acho (tenho certeza!) que ela queria um amor pleno, marcante, não uma paixão arrebatadora, mas passageira. Ela desejava o “felizes para sempre” e não um romance de verão. Ela queria respostas sobre se estas sensações representadas nos filmes que assistimos a vida toda realmente existem ou seriam boatos que tomam cor e forma apenas em contos de fadas. Olhava para ela pensando como a mesma dúvida persegue inúmeras gerações. Como sempre se questiona sobre o amor verdadeiro, a sorte de tê-lo para compartilhar uma vida. Tantas reflexões que poderiam ser feitas, tantas respostas poderiam ser dadas, tanto a se dizer e, na verdade, tive apenas uma resposta em mente, mas que não chegou à boca:
– Minha querida, você não procura um relacionamento, mas sim um treino de musculação ou uma aula de spinning. Têm os mesmos resultados: coração acelerado, pernas tremem e suor escorre. Sobre o amor… Não se procura! Ele chega até você. Quando menos se espera. Às vezes está ao seu lado o tempo todo e você ainda não percebeu, porque não é hora dele te transformar.
Não é a resposta que alguém deseja ouvir. Nem é a resposta que podemos dar diante de uma pergunta tão simples e tão complexa, pois cada um descobre isto a seu tempo, à sua hora.
Ainda bem que me silenciei…
Pois isso que ela procura pode ser amor… ou será paixão?
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora
