ÁGUA E ENERGIA: A DIALÉTICA DO FUTURO O RIO GRANDE DO NORTE COMO ESPELHO DO BRASIL QUE ESTÁ POR VIR –

“Não é o elemento que carece de sentido; é o homem que se ausenta da consciência de sua própria interdependência.” — Sara Natália.

  1. A NOVA GEOGRAFIA DO PODER

Vivemos uma era em que o conceito de crise se naturalizou, como se o colapso fosse parte da paisagem.

Mas por trás da névoa da urgência, há uma verdade cristalina: a água e a energia tornaram-se o eixo invisível do poder.

No Brasil, e com especial nitidez no Rio Grande do Norte (RN), o debate sobre sustentabilidade transcende o ambiental e toca o filosófico.

Quem controla o fluxo, líquido ou elétrico, controla o futuro.

O império do petróleo cede espaço ao império dos fluxos vitais, onde o quilowatt e o metro cúbico substituem o barril e o aço como símbolos da soberania.

  1. O SEMIÁRIDO COMO FILOSOFIA DA SOBREVIVÊNCIA O RN é um território paradoxal.

Seco e solar, pobre em água e rico em vento, uma metáfora perfeita do Brasil: abundante na promessa, escasso na distribuição.

Suas secas não são apenas climáticas; são epistemológicas e políticas.

Elas revelam a desigualdade estrutural do país: o litoral brilha sob turbinas eólicas, enquanto o interior assiste ao mesmo vento que gera energia passar sobre suas cisternas vazias.

O Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH-RN) tenta mapear essa escassez, mas o dado técnico não supre a ausência de continuidade.

O monitoramento da qualidade das águas, suspenso por quase oito anos, é um símbolo cruel: sem medir, não se governa; sem conhecer, não se preserva.

E, sem consciência, o desenvolvimento se converte em simulacro.

III. A ILUSÃO DO PROGRESSO LIMPO

O Brasil lidera a revolução das energias renováveis na América Latina, com projeções que ultrapassam 65% da capacidade regional até 2028.

Contudo, o discurso da “energia limpa” esconde um paradoxo: a pureza ambiental pode coexistir com a injustiça social.

O RN é exportador de vento e importador de dignidade.

Suas torres eólicas, símbolos do futuro, às vezes iluminam mercados distantes enquanto comunidades próximas continuam às escuras, não por falta de sol, mas por ausência de gestão e de visão.

A transição energética, se não for também transição de consciência, será apenas a reciclagem estética da desigualdade. IV. A CRISE COMO FALTA DE INTEGRAÇÃO Nenhuma escassez é puramente natural.

Toda crise, em sua essência, é uma falha de interconexão sistêmica.

Os setores de água, energia e meio ambiente no Brasil ainda agem como ilhas administrativas, sem diálogo entre si.

A burocracia ignora o óbvio: o rio e o fio são irmãos.

A falta d’água e o apagão elétrico partem da mesma origem: um Estado que não sabe pensar o todo.

E é esse pensamento fragmentado que perpetua o subdesenvolvimento.

Não por carência de tecnologia, mas por excesso de miopia institucional.

  1. O RN COMO METÁFORA DO PLANETA

O que acontece em um açude que seca, em uma adutora que quebra ou em uma turbina que silencia, não é local, é planetário.

A água e a energia se tornaram o novo par estratégico global: quem controla seus fluxos, controla a narrativa da civilização.

O RN, com sua geografia contraditória, é o laboratório simbólico do século XXI:

onde o sol e o vento são infinitos, mas a gestão humana ainda é finita.

Um microcosmo onde a abundância natural convive com a escassez civilizatória.

  1. O CAMINHO: INTERCONEXÃO OU EXTINÇÃO

Soluções técnicas existem. Mas sem uma reforma mental do Estado, elas são paliativos de luxo.

Precisamos de:

Governança holística, onde água, energia e meio ambiente formem um só organismo.

Financiamentos estáveis e éticos, blindados contra a volatilidade política.

Descentralização energética, para que comunidades sejam produtoras e não apenas consumidoras.

Educação ecológica, que ensine o cidadão a ler o planeta como texto vivo, não como mercadoria.

Planejamento climático, que não espere desastres para agir.

O futuro sustentável exige o que o presente teme: integração de inteligência.

VII. O SEMIÁRIDO COMO ESTÉTICA DA RESILIÊNCIA

O sertão ensina o que a modernidade esqueceu: o valor do essencial.

Cada gota é filosofia. Cada watt é metáfora de esforço humano.

O RN pode, e deve, ser a vanguarda simbiótica do Brasil, um espaço de reinvenção entre o sol e a razão.

Se compreender a grandeza do próprio paradoxo, o estado será não apenas território, mas manifesto vivo de sobrevivência elegante.

VIII. CONCLUSÃO: O FLUXO É O NOVO DESTINO

Não há futuro fora do equilíbrio entre os elementos.

A água e a energia não são recursos, são linguagens pelas quais a Terra nos interroga:

 Vocês saberão administrar o milagre ou continuarão explorando-o até o silêncio final?

O Rio Grande do Norte pode ser a resposta que o Brasil ainda não soube dar:

a de um povo que transformou escassez em sabedoria e luz natural em consciência política.

 

 

 

 

 

 

 

Sara Natália – Acadêmica de Direito

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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