Em entrevista ao Correio Braziliense, Guilherme Afif Domingos, 73 anos, presidente do Sebrae, falou sobre a necessidade de se ter uma profunda reforma politica no Brasil. Afif presidirá o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) até 2018, onde está de 2015, depois de ser ministro no governo de Dilma. Na entrevista ele afirmou, entre outras coisas, que a Lava-Jato vai atingir toda a classe política, porque ninguém conseguirá escapar da lista de doações fraudulentas das empreiteiras. Ele disse também que só o fato de termos um novo governo, isso não significa que imediatamente seja resolvida a questão do desemprego. O desemprego no Brasil é estrutural, exatamente por conta de uma legislação trabalhista que não retrata mais as relações econômicas entre capital e trabalho. E segundo ele, o mundo mudou. A revolução digital traz outras formas de convivência. Aí não se fala mais só do emprego formal, se fala da ocupação em termos do trabalho.
Na entrevista Afif Domingos falou ainda sobre a lei da terceirização, que disse ser uma coisa absolutamente óbvia, amarrada, mas que não acontece. A terceirização é a forma de formar cadeias produtivas com outro tipo de relação, sem ser uma legislação da primeira metade do século passado. Para ele, o Brasil, hoje, sofre o mal do corporativismo público e privado e que o privado é tão forte quanto o público. E todos pagam o preço. Há uma crise no mundo porque está tendo uma mudança nesse sentido. E continuou. “O próprio Fernand Braudel, em quem me inspirei, veio para o Brasil dizendo: Vocês vão ver o que vai acontecer com o pêndulo político no mundo. O mundo vai girar da esquerda para a direita loucamente, exatamente porque a crise está nas cúpulas do sistema. Está nas corporações que dominaram o sistema em contraponto com uma sociedade que pede passagem, pede uma visão nova, oportunidades novas”.
Afif disse que quem defendia a queda da Dilma acreditava que essa mudança pudesse ser de imediato. Criou-se um clima para tal. Ele reconheceu que houve erros dentro do governo, mas que não se pode imaginar apenas a fórmula do “lavou, tá novo”, sem mexer nos problemas estruturais do país. Segundo ele, o pecado do PT foi ter consagrado o triângulo de ferro (o topo da pirâmide, onde convivem burocratas e empresários que vivem de dinheiro público) quando ele vinha representando a massa da sociedade. Mas ele foi consumido também pelo corporativismo e se aliou ao que há de pior no corporativismo privado que é o sistema empresarial brasileiro, de elite, que usa capital de fundos públicos, e não próprio. Ele criou essa relação promíscua que já existia e foi aperfeiçoada, que a Lava-Jato está revelando. E essa revelação não tem volta.
Segundo ele. a Lava-Jato vai mostrar o efeito, e não adianta ser punido só o efeito, você tem que mudar a causa. A Lava-Jato vai revelar que toda a classe política está envolvida, porque antes era só o PT. Agora, no avanço, já começa a aparecer, e isso cria uma comoção dentro do Congresso, porque todos sabem. O problema que está acontecendo hoje é no sistema sobre o qual se assentou a estrutura política do Brasil, e que perdeu a legitimidade em termos de representatividade. Esse processo atinge a classe política como um todo. E a classe política agora tem dificuldade de poder fazer a lição de casa que precisa ser feita.
Affif lembrou que a classe politica está devendo outra coisa ao país. “Eu sou constituinte e um dos autores do artigo que determinou que depois de cinco anos faríamos uma revisão da Constituição. Ela foi dentro de um clima, de um momento. Estávamos às vésperas de uma eleição presidencial que poderia mudar o rumo da história. Lembro que o muro de Berlim caiu durante a eleição presidencial. E se justificaria então, depois de um presidente eleito, um novo pacto com a Nação, fazer uma revisão da Constituição em cima de pontos que seriam fundamentais para lançar o Brasil à base de um novo conceito de desenvolvimento. Hoje, temos que fazer essa Assembleia Constituinte revisional, exclusiva para fazer a reforma das reformas, que é a do sistema político e eleitoral” finalizou.
