Não alimento preconceito algum com relação a qualquer tipo de música. Óbvio, tenho minhas preferências específicas. Mas o que importa mesmo é a emoção que ela desperta ( ou despertou) em cada um de nós em determinados momentos das nossas vidas. E que tende a perdurar ao longo da nossa existência. Eis o fundamento da falsa alegação que música boa era a “do meu tempo”.
O leque é imenso. Peças de alta qualidade, popular e erudita, continuam sendo compostas todo santo dia aqui e no mundo inteiro. Questão só de ir atrás. De interesse próprio. Para os um tanto ortodoxos procurando ouvir releituras atuais dos concertos para fagote e orquestra do Vivaldi, por exemplo. Ou, faltando saco, continuando a se enternecer ouvindo a “Paixão segundo São Matheus”, sem entender porra nenhuma de alemão. Uma vez o ouvido educado, o que toma um certo tempo, o resto o córtex cerebral se arranja numa boa, fazendo a gente “compreender” um idioma que não se sabe nem pra onde vai ( meu caso com a língua germânica, muito gutural pro meu gosto).
Não confundir com o vocal gutural que é uma técnica utilizada em gêneros como o “heavy metal” para criar um som “agressivo” e “distorcido” através da vibração de diferentes estruturas da laringe . O som da letra reflete isso, também. O processo é dinâmico. O rock e a MPB por exemplo, sempre passam por diferentes fases , na medida em que as novas gerações buscam novas alternativas. A música é um agregador social e reflete instantes específicos.
E viva Bach, Baden, Beatles, Reginaldo Rossi e Wesley Safadão. Michel Teló , Chico Buarque, Hermeto , Gismonti, Luiz Bonfá, Stravinsky e Villa-Lobos, são ouvidos no mundo todo. Nada de mal nisso. Muito pelo contrário. O que as conchas das nossas orelhas não fazem … Elas são bastante resilientes . Todo som , toda letra (enquanto som) reflete cada momento. Independentemente da indigência mental do verso ou da pouca qualidade da música. Feito pesquisa eleitoral. Algumas perduram. Outras não.
José Delfino – Médico, poeta e músico
