A evolução dos costumes pôs fim ao tabu da sonhada “noite de núpcias”, quando oficialmente ocorria a primeira noite de amor entre o casal, iniciando-se a vida conjugal.
Pois bem. Rosina, moça mimada, muito bonita e rica, foi criada com liberdade, e logo cedo passou a frequentar as festas da alta sociedade carioca. Muito vaidosa, vestia-se com esmero, optando por roupas sensuais, decotadas e coladas ao corpo, que deixavam transparecer suas formas.
Educada no tumulto das rodas elegantes, cujas festas logo cedo passou a frequentar, Rosina tornou-se uma das moças mais cobiçadas da capital.
Convencida da sua beleza, trocava de namorado com frequência, até que, aos 24 anos, conheceu Edmundo, um advogado bem sucedido, que por ela se apaixonou, e, poucos meses depois, os dois se casaram
Mesmo não gostando dos hábitos da noiva, Edmundo aceitava o seu temperamento extrovertido e exibicionista, pois a paixão que ela lhe despertou era maior do que tudo. A sua intenção, no entanto, era modificar o temperamento da noiva, depois de casados. Coisa impossível de acontecer.
Edmundo marcou o casamento, apesar da sua decisão não ter sido vista com bons olhos pela sua família. Mas ele não deu ouvidos a ninguém. Era tão violenta sua paixão, que ele não queria enxergar o comportamento leviano de Rosina.
Trajando sempre os tecidos mais leves e transparentes, sugeridos por figurinos inadequados, os modelos que a jovem escolhia deixavam à mostra uma perna, o colo e as costas. Quanto ao resto do corpo, não havia quem não o adivinhasse, na transparência indiscreta do crepe da China, ou da seda que lhe modelavam sensualmente, os seios e quadris volumosos, e a cintura fina.
Um dia, foram os círculos elegantes surpreendidos com uma notícia sensacional: o Dr. Edmundo Filgueira, um dos advogados mais bem sucedidos da nova geração, havia pedido em casamento a belíssima senhorita Rosina Ferreira, filha do Dr. Peixoto Ferreira, um dos maiores juristas do Rio.
Realizado o casamento, em que Rosina se apresentou com um vestido de noiva mais sensual e provocante do que nunca, e com recepção no mais chique salão de festas da época, o casal seguiu para a lua de mel, hospedando-se no hotel mais badalado dos anos 60.
Ao adentrarem à alcova nupcial do hotel, os noivos exultavam de felicidade e desejo. Envolta, de leve, na seda finíssima de uma camisola transparente, ou melhor, na névoa imperceptível que a deixava nua, a recém-casada fazia lembrar as estátuas de mármore, como Anfitrite, veladas convencionalmente, para o momento da inauguração. Nem Anfitrite, com os pés mergulhados na espuma e vestida, apenas, pela bruma fugitiva do Arquipélago, não seria, talvez, mais nua, e mais bela!
Entreolhavam-se, os dois, na alcova silenciosa, ninho de ouro e seda, armado para um casal de pombos amorosos, quando o noivo se adiantou, e, sorrindo, anunciou à moça, tomando-lhe, carinhosamente, as mãos geladas e brancas:
– Sabes, meu amor, que te preparei uma surpresa?
– Surpresa? Qual? – indagou a noiva, demonstrando curiosidade e aflição.
O noivo suspendeu os travesseiros da cama, e tirando daí um vestido para a noite, muito composto, comprido até o tornozelo, decote alto e com mangas longas, trabalhado em seda branca e opaca, e implorou:
– É que eu nunca te vi vestida com uma roupa composta!… Nua, já vi demais!!!
Desapontada, Rosina atendeu ao marido e foram felizes para sempre.
