O TEMPO NÃO PARA

Em maio próximo, Deus querendo, chegarei aos 94 anos. Quando olho para trás, nos meus dezoito, achava que se chegasse aos 70, estaria bom demais. Esqueci essa previsão infantil. Com o passar do tempo, os setenta se aproximando, houve momentos em que relembrei a previsão e comecei a ver que tinha sido pessimista. Uma coisa posso assegurar, a morte não me preocupa. Sei que não vou gostar, mas estou preparado para enfrentá-la. Só tenho um medo, ficar pendurado em máquinas, sem esperança e tempo indeterminado.

Venho pensando em escrever sobre isso há algum tempo. Já fiz comentários sobre esse processo de envelhecimento várias vezes, e tinha pensado em não mais voltar ao assunto. Mas, o problema é que o envelhecer não para, e sempre se faz presente, lhe afetando das mais diversas formas. E você o sente…

Seja qual for a causa, e a maioria você não sabe, seu corpo cada novo dia aparece com alguma modificação evidente, mas não aparente. Seus dedos doem, seus pés incomodam, seus batimentos oscilam, suas pernas se negam a carregar o peso, seus joelhos gritam, o seu todo mandando mensagens constantes para o seu cérebro, que também começa a se queixar da vida, negando-lhe lembranças de ontem, mas trazendo as de anteontem.

Há que acostumar-se e, principalmente, não reclamar e conformar-se com os atropelos. O que vocês estão lendo agora são confissões raríssimas de minha parte. Acho que todos são como eu, evitam alardear suas mazelas, para não cansar os amigos e parentes, com comentários, especialmente lastimosos. Todos, em maior ou menor grau, tudo função da idade, estão vivendo ou vão viver esses problemas. Há um consolo definitivo para tudo isso; só sentem essas dificuldades por estarem vivos.

Além da própria saúde física, há a mental. E, para essa, é manter o cérebro funcionando e trabalhando intensamente. Tento fazer isso. Leio muito, uso os recursos que a informática nos oferece, vejo TV (ainda há alguns bons programas), filmes, procuro conversar com familiares e amigos. Estes, os amigos, já começaram a desaparecer, especialmente os da minha geração e com os quais eu convivia mais diuturnamente. Olho em volta, e vejo o vazio físico, mas, espiritualmente, estão todos presentes nas minhas lembranças. Para mim, são todos inesquecíveis. Essas recordações são balsamos que diminuem nosso sofrimento.

Minha vida, graças ao bom Deus, tem sido longa. Esses comentários não são reclamações, mas apenas evidências da realidade, com a qual todos nós, mais cedo ou mais tarde, vamos ter que conviver. Antigamente, se costumava encerrar um texto como esse com “tenho dito”. Ë o que vou fazer! Tenho dito!

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN, dandrade@dmandrade.com.br

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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