PLEONASMO X TAUTOLOGIA – Armando Negreiros

PLEONASMO X TAUTOLOGIA –

Com o título de “Encarando de frente” publiquei um artigo, há alguns anos, impressionado com um dos patrocinadores das olimpíadas de Atenas que gastou um absurdo em publicidade para anunciar uma pérola dessas: encarando de frente. E reclamava: é do mesmo nível de subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora, hemorragia de sangue, vereador municipal, hepatite do fígado, novidade inédita, repetir outra vez, emulsão de óleo, adiar para depois, antecipar para antes, panorama geral, exultar de alegria, breve alocução, todos foram unânimes, conviver juntos, inventar novos, criar novos, sentidos pêsames, efusivos parabéns, erário público, demente mental, este último, provavelmente, o redator da propaganda.

Há alguns meses recebi uma relação atribuída ao professor Pasquale: planos ou projetos para o futuro, habitat natural, Prefeitura Municipal, sua autobiografia, sorriso nos lábios, goteira no teto, estrelas do céu, General do Exército, Brigadeiro da Aeronáutica, Almirante da Marinha, manter o mesmo time, labaredas de fogo, pequenos detalhes, despesas com gastos, monopólio exclusivo, ganhe grátis!, países do mundo, viúva do falecido.

Posteriormente recebi com o título de “tautologia” uma lista que reproduzo – tentarei eliminar os já citados: elo de ligação, acabamento final, certeza absoluta, quantia exata, nos dias 8, 9 e 10, inclusive, juntamente com, expressamente proibido, em duas metades iguais, sintomas indicativos, há anos atrás, vereador da cidade, outra alternativa, detalhes minuciosos, a razão é porque, anexo junto à carta, de sua livre escolha, superávit positivo, todos foram unânimes, fato real, multidão de pessoas, amanhecer o dia, retornar de novo, empréstimo temporário, surpresa inesperada, escolha opcional, planejar antecipadamente, abertura inaugural, continua a permanecer, a última versão definitiva, possivelmente poderá ocorrer, comparecer em pessoa, gritar bem alto, propriedade característica, demasiadamente excessivo, a seu critério pessoal, exceder em muito.

Todos os exemplos revelam redundância, pleonasmo vicioso, perissologia – vício de linguagem que consiste em repetir várias vezes, por palavras diferentes, um pensamento já enunciado.

Diz Luiz Antonio Saconni: não há redundância, contudo, em intrometer-se no meio, já que alguém pode intrometer-se no começo, no fim e até mesmo no meio de uma conversa; nem em voltar-se para trás, pois alguém pode perfeitamente voltar-se para o lado. Não se tomam como redundâncias, na língua contemporânea, estas combinações: antídoto contra, interpor-se entre, concordar com, comparar com, suicidar-se.

O pleonasmo é o emprego de termos desnecessários, cujo objetivo é enfatizar a comunicação. É uma figura de linguagem, mais especificamente figura de palavras. Pode ser semântico, ver com os próprios olhos e sintático, a mim ninguém me engana. Só possui valor literário quando a repetição tem finalidade expressiva, quando traz objetivo estilístico, do contrário constitui redundância ou tautologia.

Há quatro anos atrás, nas olimpíadas… há quatro anos, tem que ser atrás. Ou se diz, quatro anos atrás, ou, há quatro anos. Seria o mesmo que dizer: daqui a quatro anos pra frente…

A redundância é um vício de linguagem do mesmo grupo do barbarismo –  récorde, íbero, rúbrica, janta; do solecismoo povo foram, a turma gostaram, haviam muitas pessoas, quem fez isso foi eu; da cacofonianunca ganhou, ele marca gol, escapei de uma boa hoje, mande-me já isso, boca dela; da ambigüidademataram a vaca da sua mãe, em vez de mataram a vaca que era da sua mãe; do preciosismoOlá, da costa d’áfrica, quanto queres de remuneração pecuniária para transpor-me deste pólo àquele hemisfério?, que, objetivamente, seria: – Olá, negrão, quanto você cobra para levar-me de uma margem à outra?; – Na pretérita centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a rainha da noite, que, no popular, seria: – No século passado meu avô presenciou o eclipse solar; – Lula é o salvador da pátria? Isso são parolagens flácidas para dormitar bovinos, ou seja: – isso é conversa mole para boi dormir; do arcaísmohum, senhôra, vosmecê, tinha abrido; do plebeísmolegal, cara, bacana, pintei no pedaço, ganhei a mina, mas acabei dançando, malandro: a mina tava amarrada em outro carinha… a doidinha me jogou pro alto, me achaquei!

Finalmente, quando é que os jovens vão aprender a usar corretamente a preposição antes das horas?

– Eu vou de duas e volto de quatro.

Quem volta de quatro – ou de duas, ou de qualquer outra hora – é burro, pois hora não é transporte para você ir ou voltar de. Vamos às duas e voltamos às quatro.

 

 

 

Armando NegreirosMédico e Escritor, aafnegreiros@gmail.com
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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