Os ataques dirigidos, pelas redes sociais, à estudante piauiense de administração Monalysa Alcântara, uma negra e nordestina eleita Miss Brasil 2017, traz à baila um preconceito já bastante nosso conhecido.

Há tempo que o Nordeste convive com a incômoda pecha de fardo demasiadamente pesado para o Brasil. Volta e meia torna-se moda discriminar nordestinos. Somos os responsáveis pelo desemprego, pela inflação alta, pela recessão, pela marginalização e por tudo de ruim que acontece à nação.

Falta apenas nos acusarem pelas enchentes e geadas do Sul, pelas possíveis quebras das safras agrícolas e pela diminuição da camada de ozônio que circunda o globo terrestre.

Num passado não tão distante estava em voga a onda separatista. Falava-se nessa possibilidade com tanta propriedade, que se antevia a certeza de estarem sanados todos os males do país com o desligamento do Nordeste do mapa do Brasil.

É difícil acreditar que um complexo regional composto de nove estados, correspondendo a 20% do território nacional e contendo 30% dos habitantes do país, não sobrevivesse uma vez separado.

Lembremo-nos que do século XVI ao século XVIII essa região abrigou a maioria da população do Brasil-Colônia e, por mais de 200 anos, a sede do governo-geral do país, em Salvador.

A ideia que se tem do Nordeste como uma região diferenciada no espaço brasileiro remonta do início do século XX, quando a industrialização do Sul coincidiu com a decadência econômica das áreas nordestinas. A partir daí nos tornamos, para muitos, a “região problema”.

Sim, nos tornamos uma área populacional repulsiva, que produz apenas mão-de-obra para as demais regiões, e que necessita da constante ajuda governamental para se desenvolver.

Separados, teríamos que mudar de comportamento e encontrar o nosso próprio caminho. Depuraríamos os escolhidos para representar o povo, criaríamos mecanismos para fixar o nordestino à terra, concluiríamos o mitológico programa de irrigação – mirem-se em Israel – e, incrementaríamos a indústria que mais potencial possui para crescer na região: o turismo.

Quanto ao nome desse novo país… Bem, ele poderia se chamar Brasil. Afinal de contas foi essa a designação dada, posteriormente, à Terra de Santa Cruz, quando do descobrimento do novo mundo, com base na árvore do mesmo nome que florescia ao longo da costa nordestina.

Tudo isso não passa de especulação. Imaginar o nosso país dividido é algo inconcebível para a maioria dos brasileiros. E mesmo com todas as dificuldades que atravessamos – e que teremos ainda de enfrentar -, a ideia da separação está restrita a grupos isolados e sem representatividade suficiente para deflagrar movimento de alcance nacional. Apesar de todo o preconceito.

Temos orgulho de integrarmos uma das cinco regiões brasileiras, mas, jamais abdicaremos da origem, da tradição, da cultura e do amor pelo Nordeste.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – jnsousa29@gmail.com

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