Meu tio Protásio –

Tenho contado umas estórias de Pelúsio, mas Protásio não fica muito atrás. Tem também algumas estórias ótimas, algumas do tempo da guerra, outras do Atheneu, da SCBEU, de suas viagens.

Foi professor de Português em Parnamirim, no tempo da guerra. Um dia, é chamado pelo Comandante da Base, preocupado, e mais do que preocupado, curioso. Queria saber por que os brasileiros riam tanto quando era anunciado o “pay day”. Protásio explicou como soava a pronúncia em português, e o que significava. Os americanos entenderam e mudaram o nome do dia para “payment day”. E acabou a galhofa.

Doutra feita, chegou aqui um vice-presidente da Chevrolet, que estava no Brasil visitando os seus concessionários. Aqui, era a firma Severino Alves Bila, que conheci e era amigo de meu pai. Mas não falava inglês; o americano nada sabia de português. Chamou para interprete um senhor da Polícia Marítima que, se dizia, falava inglês. Deu conta do recado, até o último dia. O americano falou com ele, apontando para o relógio de Bila, e ele disse à Bila: “seu” Bila, ele quer vender o relógio, para continuar a viagem. Não pode, fulano, o homem é vice-presidente da GM, veio no avião da empresa, é rico. Esclareça isso. E o interprete voltou com a mesma conversa. Bila exasperou-se e disse: chama Protásio. Quando ele chegou, Bila explicou a dificuldade e Protásio foi falar com o gringo. E aí disse a Bila. Ele viu que você tem um relógio Pateck Philipe. O hobby dele é colecionar esses relógios e pergunta se você conhece alguém que tenha e queira vender; ele compra todos os que você conseguir. O interprete inicial escafedeu-se.

Essa é de antes da guerra. Poucos falavam inglês em Natal. Chegou um grupo de empresários ingleses, que se reuniram com a diretoria da Associação Comercial. Ninguém falava inglês. Lembraram-se de um individuo que, dizia-se, aprendera inglês trabalhando na ponte de Igapó. A figura veio, e nem ele entendia o que eles diziam, nem os caras entendiam o que ele dizia. Desculpou-se, o meu inglês é de ponte: parafuso, porca, viga de aço. Chamaram Protásio.

Nessa mesma linha tem uma outra estória, mas essa foi comigo. Meu pai tinha uma loja na Dr. Barata. Loja bonita, bem sortida, era muito visitada pelos americanos e eu corria para atende-los, para praticar o meu iniciante inglês. Um dia, chegou um senhor, com um outro e uma mulher. Fui atende-los e conversa vai, conversa vem, nem eu os entendia nem eles me entendiam. Até que a mulher interveio e disse (e aí eu entendi muito bem): por favor, chame alguém que fale inglês. Não chamei, porque não tinha. Pedi desculpas, que não sei se entenderam, dei as costas e me recolhi à minha ignorância.

Dalton Mello de AndradeEx-secretário de Educação do RN

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