SER APOSENTADO –
Muitas opiniões e lendas cercam – ou cercaram – a vida de aposentado. Muitas delas hoje perderam o sentido porque, além de se aposentarem cada vez mais cedo, as pessoas aprenderam que esse estado não é mais o fim de vida que se pensava que fosse. Eu mesmo, depois de retirar-me, passei a fazer muitas coisas que deveria ter feito há trinta ou quarenta anos atrás. E algumas delas sinto que faço bem melhor do que se fosse na juventude. Poucas coisas, claro. Pensar, raciocinar e decidir sem as pressões e exigências da testosterona e da explosão hormonal são algumas delas, as mais fáceis.
Não me vejo como um garanhão maduro nem alardeio a energia e a disposição com que muitos se iludem e querem ostentar. Tenho consciência deles e respeito os meus limites. Neste momento, estou com setenta e três anos e vivo, penso e ajo como tendo a minha idade. Nem mais, nem menos. Não me ocupo muito com a minha aparência, apenas com a saúde e a higiene corporal, e tento não incomodar os outros (jovens ou velhos) com manias ou vontades. Nada tenho com a vida dos outros, mas devo dizer que me incomoda ver um setentão exibindo raros e ralos cabelos pintados de preto, como se a tinta pudesse esconder o rosto vincado e a pele flácida.
Pelo contrário, a pintura exagerada até realça e expõe o que pretendem ocultar. Há, também, os que ainda se julgam capazes de aventuras amorosas e sentimentais e se arrojam como vorazes predadores, no afã de testar o seu desempenho. A indústria farmacêutica oferece opções e atalhos. Conheci alguns que, entupidos de estimulantes, colheram resultados desagradáveis e fatais.
Deve ser, também, porque hoje está na moda se exaltar a energia e a juventude como mais um direito adquirido pelos que integram a recém-nomeada “terceira – ou a ‘melhor’ – idade”. Mas isso não é ruim, é bom. Respeitados os limites tudo pode dar certo.
Quando me aposentei, aos 49 anos de idade, um presidente da República, elitista e abusado havia dito que quem se aposentava nessa idade era vagabundo. Considerei uma injustiça. Eu trabalhava desde os treze anos. Não me retirei por preguiça, foi conveniência. No meu trabalho achei que deveria dar oportunidade aos jovens, mais preparados e dispostos. Além disso, quase a vida toda passei fazendo coisas para as quais não tinha vocação. Mas não senti a menor vontade de tentar “recuperar o tempo perdido”.
Aproveitando a energia restante e a saúde mental dediquei-me ao estudo da música, não por pretensões profissionais. A minha intenção é apenas integrar e alegrar as rodas e os encontros com os amigos. Esse amor pela música é igual a tantos outros que experimentamos desde a infância. Alguém tem sempre guardado nas suas melhores lembranças a imagem desses primeiros amores.
No meu caso, começou aos oito ou dez anos, ouvindo os pais cantar e cultivar o gosto pelas canções populares. Depois, num sábado qualquer em Extremoz, para onde meu pai me levara a uma comemoração de Bodas de Ouro. Um conjunto de serestas animava a festa. Tinha violão, cavaquinho, clarinete, pandeiro. Nos primeiros acordes fui para junto daquela turma e de lá só saí na hora do almoço. Foi há mais de sessenta anos.
Conheci o rock, a jovem-guarda, o samba, a grande música popular brasileira, a música erudita, os grandes cantores. Mas, confesso, do que eu mais gosto é de ser aquele menino que sempre amou as serestas. Um ouvinte eterno de Silvio Caldas, Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Nelson Gonçalves. O menino que até hoje escuta o violão de Dilermando Reis, o cavaquinho de Valdir Azevedo, a flauta de Altamiro Carrilho, o bandolim de Jacob. E que não perde uma chance de saborear o doce da voz eterna de Glorinha Oliveira.
Convenhamos que descontadas dúzias de remédios, restritivas e cruéis dietas, milhares de precauções e limitações físicas, ser aposentado assim talvez valha a pena.
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais
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