REMINISCÊNCIAS –

Dias passados escrevi sobre envelhecer. Queiram ou não, é o futuro, que cada dia fica mais curto. Com 92 anos, meu futuro está a dobrar a esquina. Hoje, falo do passado.

Comecei a tomar conhecimento das coisas, e guardá-las na memória, a partir dos cinco anos. A primeira lembrança foi da Intentona Comunista. As circunstâncias me fizeram gravá-las e as tenho presentes até hoje. Não vou me alongar neste assunto, pois já escrevi sobre ele, com detalhes, em vários outros artigos. Mas, de certa forma, marca o meu despertar para as coisas ao meu redor. A violência e o despreparo dos líderes foram vergonhosos. Prefiro comentar coisas positivas.

E, claro, das mais positivas foram minha primeira escola, que comecei aos sete anos. Minha “alma mater” foi o Colégio Pedro Segundo, do Professor Severino Bezerra de Melo, que posso afirmar com certeza foi das melhores escolas de Natal, se não a melhor. Fiz lá todo o meu curso primário, saindo para fazer o “vestibular” para entrar no Atheneu em 1942. O colégio me deu formação total. Você não só aprendia a ler e escrever, mas recebia uma educação ampla, com lições de civismo, tolerância, obrigações e direitos. Todas as manhãs nos reuníamos no pátio do Colégio para cantar
o Hino Nacional ou da Independência, com o piano de Lygia, filha do professor, conduzindo o espetáculo. Só então íamos para nossa sala. Nunca me esqueci da minha professora D. Helena, que não somente nos ensinou, mas nos educou.

As aulas começavam às sete e terminavam às onze. O Colégio ficava na Ribeira, na Rua Sachet (devem ter mudado o nome), ao lado do Teatro Carlos Gomes (este eu sei que mudaram). O prédio do colégio não existe mais. Ia então para a firma de meu pai, e o seu bondoso coração me punha a trabalhar, dentro dos meus limites. Varrer o escritório, limpar as máquinas de escrever e coisas parecidas. E geralmente me levava à tarde, para terminar o que tinha começado. Óbvio, eu ficava “p.” da vida, mas hoje reconheço que ele fez certo. Assim se foram os anos do Pedro Segundo e aumentando gradativamente minhas obrigações na empresa.

Fui então fazer um preparatório para o vestibular do Atheneu, com o Professor Fontes Galvão. Tinha uma sala na João Pessoa, e turmas pela manhã e à tarde. Ensinava todas as matérias, era muito exigente, e nos forçava ao máximo. Na véspera do exame no Atheneu conversou conosco e disse quem iria passar e quem não iria.

Acertou, como se dizia antigamente, na bucha. Felizmente, eu estava entre os que passariam, e realmente passei e entrei no Atheneu em 1942, já em plena segunda guerra, que mudou Natal da água para o vinho. E aí começam outras histórias, sobre as quais escreverei outras crônicas.

 

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN, dandrade@dmandrade.com.br

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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