O SAPATO DO MENINO –

Era meado dos anos cinquenta. Natal ainda era uma cidade pequena, suas habitações e ruas pavimentadas, não chegavam onde hoje é a UNP da Avenida Salgado Filho.

A casa de meus pais ficava na Rua Mossoró, por onde passavam vendedores de verduras, pão, jornais, cuscuz, tapioca, frutas, garrafeiros (compravam garrafas,) amoladores de tesoura, pirulitos, geléia de coco, picolé, roletes de cana e outras iguarias.

Natal era tão pequena que se comprava alimentos em vendas ou mercearias e leite em algumas vacarias ali por perto.

Nessa época havia bastantes construções de casas. A areia e barro para argamassa eram transportados em jumentos, e vinham do bairro de Mãe Luiza, algumas dessas tropas passam em frente à casa de meus pais. Como existiam terrenos baldios, os vizinhos a nossa casa eram uns deles, os donos dessas tropas aproveitavam para alimentar os animais nestes terrenos

Uma tarde, brincando de jogar bola no terraço, um chute maior, a bola caiu no terreno vizinho, corri para buscar e encontrei um menino loiro dos olhos verdes segurando a bola. Perguntei seu nome (Sebastião) ele me devolveu a bola, e fomos jogar. Terminada a “pelada” convidei para que ficasse indo lá por casa. Ele aceitou, surgindo uma boa amizade. Com o passar dos tempos, notei que não usava sapatos e tinha os pés castigados pelas longas caminhadas que fazia diariamente.

Chegou à época do Natal, época em que a criançada vivia com entusiasmo, toda aquela história de Papai Noel, de Pólo Norte, trenó, presentes, missa do galo, foi quando eu perguntei a Sebastião se ele não tinha sapatos e o que ia pedir a Papai Noel de presente.

Respondeu-me dizendo que Papai Noel, nunca tinha deixado presente para ele. Pensei naquela resposta durante certo tempo e achei que não recebia presente por falta dos sapatos, pois eu colocava os meus debaixo da cama.  Resolvi falar com papai para comprar um par de sapatos para ele.  Papai aceitou, compramos os sapatos e meias. Sebastião ficou muito feliz disse que ia calçar em casa depois que lavasse os pés.

Chegando perto do dia do Natal, perguntei se tinha feito a cartinha para Papai Noel, ele triste me falou que não sabia escrever, então eu disse que fazia a carta, – queria um carrinho parecido com os meus, falei que dava a carta a mamãe para entregar a Papai Noel, e combinamos de brincarmos depois do Natal.

Passadas as Festas, fomos brincar com os novos brinquedos. Para minha surpresa Sebastião falou que Papai Noel não tinha passado na sua casa. Corri chorando para perguntar a mamãe se ela não tinha colocado a carta para Papai Noel. Ela sorriu e disse. – Coloquei meu filho, só que não sabia o endereço dele coloquei o da nossa casa e entregou-me um lindo carrinho. Recebi, sai correndo e gritando para entregar ao meu amiguinho.

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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