O MISTÉRIO –

Na noite de Natal, os pobres se sentem mais pobres e mais tristes, do que em qualquer outra data. Aqueles que não tem um teto para morar ou um pão para comer, esperam sempre um milagre. Sonham com mesa farta e moradia, onde possam se abrigar contra a chuva, o sol e o sereno.

Josué e Mariana, sem teto, tinham certeza de que a melhor coisa do mundo era a pessoa ter quatro paredes para morar. Sem moradia, as pessoas não passam de animais errantes.

Chegou a noite de Natal. O casal ia caminhando na escuridão da noite, amargando a miséria e a falta de esperança. De repente, Mariana tropeçou em um pequeno cachorro, que dormia numa calçada. Muito magro, o animal se assustou olhando para o casal, como quem pedia proteção. Parecia ser um cachorro tão pobre quanto eles próprios, pois não tinha mais do que a pele em cima dos ossos, e quase não tinha pelo.

Os pobres são bons para os pobres. O espírito de solidariedade reina entre eles. Por isso, ajudam-se mutuamente.

Os dois pobres se compadeceram do cachorro. Apesar de ainda não terem comido nada, deram ao animal um pouco do pão com manteiga que haviam recebido de esmola, quando vagavam pela cidade. O cachorro comeu e saiu andando à frente deles, sempre olhando para trás, como se os estivesse chamando para acompanhá-lo. Eles seguiram o animal até um casebre abandonado. Com o clarão da lua, viram dentro dele dois bancos e um fogão apagado. Um raio de luz aparecia e desaparecia, iluminando o ambiente. Fazia muito frio e os mendigos desejaram que aquele fogão fosse uma lareira. De repente, viram nele duas brasas acesas, brilhando como ouro.

Contente e esfregando as mãos, o homem aconchegou a companheira ao seu corpo, para que, deitados no chão e abraçados, pudessem desfrutar melhor daquele calor. O casal já não se sentiu tão pobre e triste. As brasas arderam, misteriosamente, aquecendo o casebre.

Os mendigos sentiram-se abençoados, pois, naquela noite de Natal, puderam se aquecer até amanhecer o dia. O Menino Jesus lhes dera aquele presente. Pela manhã, viram os olhos amarelos do cachorro os observando, do outro lado do fogão apagado.

Tudo não passara de um delírio. Talvez, o delírio provocado pela fome e pelo desalento. O reflexo dos olhos do cachorro parecia duas brasas vivas. Essa ilusão fez com que os pobres adormecessem, sentindo-se abrigados. Ao amanhecer o dia, voltaram à triste realidade: Não tinham teto para morar, nem comida para comer.

Saíram caminhando, seguidos pelo cachorro, que a eles se apegou, completando a família.

Na realidade, o que se passou com os mendigos, naquela Noite de Natal, foi um mistério. E mistério não tem explicação.

 

 

Violante Pimentel – Escritora

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,1160 DÓLAR TURISMO: R$ 5,3260 EURO: R$ 5,4700 LIBRA: R$ 6,3820 PESO…

17 horas ago

Princesa Kate posta foto de Charlotte para celebrar aniversário de 9 anos de sua filha

O Palácio de Kensington divulgou nesta quinta-feira (2) uma imagem da princesa Charlotte, filha de…

18 horas ago

Homem é preso suspeito de abrir contas bancárias com identidades falsas; golpe causou um prejuízo de R$ 250 mil

Um homem de 28 anos foi preso em flagrante em Natal pelo crime de falsificação de documento…

18 horas ago

Chuvas no RS: entenda as causas de uma das piores tragédias climáticas no estado e por que a situação deve piorar

O Rio Grande do Sul vive uma de suas piores tragédias climáticas. A chuva que persiste há…

18 horas ago

George Santos grava vídeo como drag queen Kitara Ravache: ‘Depois de 18 anos no armário’

O ex-deputado dos Estados Unidos George Santos, o filho de brasileiros que foi expulso do Congresso norte-americano…

18 horas ago

13º do INSS: pagamento para quem recebe mais que 1 salário mínimo começa nesta quinta

Começa nesta quinta-feira (2) o pagamento do abono anual aos beneficiários da Previdência Social, também…

18 horas ago

This website uses cookies.