NEM SEMPRE VENCE O MELHOR –
Domingo, 2 de janeiro de 2022. Ano Novo, de verão quente e abafado, céu com muitas nuvens espessas e escuras, com prenúncios de quedas d’águas para esse mundo afora nordestino, tão sofrido.
Lendo os noticiários da cidade, deparo-me, no caderno de esporte da TN, na coluna do amigo-jornalista Rubens Lemos Filho, com o relato sobre a data de aniversário da decisão do campeonato de futebol da cidade no ano de 1965, vencido pelo ABC FC, no domingo, dia 2 de janeiro de 1966, diante da equipe do Alecrim FC; ano que o alvinegro comemorava o seu cinquentenário.
O assunto acendeu, aquiesceu a minha mente. As cenas do filme do embate voltaram e iluminaram o meu momento matinal caseiro de domingo de Ano Novo, revivendo aquilo que aconteceu há 56 anos, quando tentávamos – o Alecrim FC – conquistar o seu inédito tricampeonato de futebol da cidade.
Tarde quente de verão de domingo, início de Ano Novo (1966), Estádio Juvenal Lamartine lotado, com 4 mil expectadores. Torcidas animadíssimas; o Alecrim, evidentemente, com a menor e mais barulhenta, concentrada na arquibancada descoberta próxima à casa dos zeladores do Estádio, Manuel e Luciano; a do ABC, ocupando todo o espaço restante, o famoso frasqueirão.
Lá estava eu, vestido de verde com a camisa de número 5, da bela e eficiente equipe Alecrinense, bicampeã da cidade (1963 e 1964).
Foi uma decisão, diria, inusitada; o nosso time visivelmente superior, com 2 turnos vitoriosos com certa facilidade. Veio o terceiro turno, o time bastante relaxado e sem entusiasmo, apático, perdeu a decisão. A seguir, veio uma melhor de 3 partidas, o que na realidade foram 6, culminando com a vitória do ABC, sagrando-se campeão, já no início de 1966.
Lembro bem que a Diretoria resolveu nos colocar em um velho casarão no meio do matagal, cedido pelo América FC, hoje bairro Potilândia, chamado de concentração (estava mais para detenção). Ficamos um longo tempo isolados do “mundo”, perdemos por completo a companhia da família, dos amigos e, pior ainda, por se tratar de um momento de férias e festas de final e início de ano.
Não quero justificar com isso a não conquista do campeonato; mas que causou uma forte desmotivação e declínio na disputa, não tenho dúvidas. Perdemos totalmente a vontade de jogar e nada foi feito por parte da Diretoria para reverter o quadro de apatia que amofinou e dominou a nossa equipe.
Na época, um fato hilário aconteceu com o nosso adversário, o ABC, quando esteve fazendo um amistoso na cidade do Recife. O locutor, no momento da transmissão do jogo, ao anunciar a escalação do time visitante, observou e ficou um tanto curioso com os nomes dos seus jogadores: Piaba, Papagaio e Caçote; espantado, indagou: Oxente! Isso é um time de futebol ou uma bicharada? Pois, esse mesmo time, com essa bicharada toda, conseguiu vencer o nosso bom time, que usou e ousou da soberba como o seu maior jogador, aliado ao rigoroso e prolongado isolamento prisional e, ainda, com um displicente distanciamento da Diretoria.
Parabéns, ABC FC, campeão com muita honra e galhardia!
Berilo de Castro – Médico e Escritor, berilodecastro@hotmail.com.br
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