MEU TIO VIVI –

Veríssimo de Mello. Meu tio Vivi. Com essas minhas lembranças de Vivi, encerro a “trilogia” dos meus trios, todas grandes figuras, de cujas amizades e intimidades tive o prazer de ter. Vivi era o seu nome de guerra. Raramente alguém o chamava de Veríssimo. Meu avô gostava de nomes diferentes e ia busca-los não sei onde.

Era oito anos mais velho do que eu, e como vivia muito na casa do meu avô, convivi com ele desde cedo, ainda na adolescência. Às vezes, tínhamos algumas mal-entendidos, pois eu ia mexer nas coisas dele e, quando notava, vinha brigar comigo. Mas, eu tinha uma aliada forte, minha avó, que dizia: Vivi, deixe o bichinho em paz. Hoje, concordo que ele tinha razão. É realmente mito chato alguém mexer nas suas coisas. Minha paixão era um gerigonça que ele montou para estudar código Morse. Um manipulador ligado a uma lâmpada e que, quando acionado, a fazia piscar os traços e pontos do código. Estava aprendem o dito cujo, pois queria fazer concurso para a Marinha Mercante. Tenho a impressão que isso me influenciou para aprender o código e me tornar radioamador.

Formou-se em Direito, como o irmão Protásio. Passou um tempo no Rio, trabalhando como jornalista, profissão que abraçou durante praticamente toda a vida. Chegou a fundar um jornal em Natal, “O Democrata”, político, ligado ao PSD, junto com Romildo Gurgel e Joanilo de Paula Rego, com o apoio do Partido e do “Majó” Teodorico Bezerra.

Muito amigo de Luiz da Câmara Cascudo, de quem era primo, entusiasmou-se por folclore e dedicou-se ao folclore infantil. Escreveu muito sobre o assunto, e publicou livros, que foram muito bem recebidos. Quando morei em Wahington, ia à Biblioteca do Congresso e um dia resolvi procurar se havia livros de algum conterrâneo. Encontrei o livro de Vivi e mandei dizer a ele. Não sabia e ficou muito satisfeito com a notícia. Foi professor de Antropologia da UFRN e também Diretor do Instituto, antes de Protásio. Tinha uma paixão especial pela matéria e dizem ter sido um bom professor.

Gostava da vida e a aproveitou. Tocava violão muito bem, foi compositor e deixou músicas com Hianto de Almeida e Chico Anísio. Com Hianto fez uma música chamada “Caju nasceu pra cachaça”, que fez certo sucesso na época. Gostava da noite e saia com os amigos “pela aí”. Noêmia, mulher dele e com quem foi bem casado, tendo três filhos, todos ótimas figuras, reclamava essas saídas e ficava esperando para ver a hora em que ia chegar. Num desses dias, lá pelas três da manhã, chega Vivi. Ela, que o esperava, o recebeu com um contrariado “isso é hora de você chegar em casa”, ao que ele calmamente :retrucou: quem disse que eu cheguei em casa? Vim buscar o violão!

Nos víamos pouco, mas sempre uma alegria grande quando nos encontrávamos, muitas vezes na casa de Gilson Ramalho, que fazia uns saraus com ele, Gilson, no órgão, Vivi no violão, Protásio na bateria, e Geraldo Bezerra no contrabaixo. Eu batia palmas e tomava uma. Eles também.

Diógenes da Cunha Lima, que foi um dos seus melhores amigos, tem ótimas histórias de Vivi. E gosta muito de contar que, nas reuniões do Conselho de Cultura, quando dava seis horas, Vivi dizia: me deem licença, tenho que ir comprar o pão e ir pra casa, Noêmia está me esperando para jantar. Diógenes diz que nunca conferiu.

Para encerrar, umas das melhores histórias dele. Teve o carro roubado. Fez o tal do B.O. e ficou a pé e esperando. Nada. Um dia, foi com um amigo a um barzinho de Ponta Negra e o carro dele estava parado em frente. Disse ao amigo: pare atrás e não deixe esse cara sair. Vou em casa buscar a chave reserva. Foi, voltou, e roubou o próprio carro.

 

 

 

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN, dandrade@dmandrade.com.br

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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