LÁ VAI ELA E PENSA… –

 “ Tão bonita que ela é, cabelos lisos como eu nunca vi. ” Na verdade, ela era bonita, cabelos lisos, muita alta para a época (anos sessenta) talvez 1,75m, um porte muito alto para mulher na minha geração, um rosto lindo de chamar a atenção, garota do interior, ainda para se adaptar aos costumes da “cidade grande” a tornara um pouco tímida. Quase todos os dias passava em frente à casa de meus pais rumo ao colégio, talvez cursando o terceiro ano científico. Ficava eu, na sacada do muro, esperando ansiosamente o horário que ela passasse, depois, ia pronto para a Escola de Engenharia onde fazia o curso de engenharia civil.

Época diferente, de romantismo, de carros simples como Dauphine/ Gordine , Fusca, DKW, Simca, Aero Willys, mas que nos tornávamos os faraós da época. Uma calça Lee tornava as mulheres mais elegantes, “mais charmosas”, e se tocasse violão então era “o máximo”. Quantas vezes ficávamos tocando violão as noites e madrugadas em uma beira de praia, era um mundo diferente, um mundo dos hippies, dos Beatles, das pranchas de surf, das primeiras tatuagens, dos cabelos compridos para os homens, e corte tubinho ou Chanel para as mulheres, época da mini saia, época em que a juventude começava a soltar as amarras dos costumes mais tradicionais.

Tempo diferente, tempo das esperas das saídas dos colégios femininos era uma festa, tempos de encher os bares principalmente à noite, a Confeitaria Atheneu, o Dia e Noite, O Pitombeira, O Postinho, A Palhoça. O que é que você vai fazer domingo à tarde? Quase certo, curtir um filme nos cinemas Rio Grande, Rex, Nordeste ou Poti, depois as matinés no América, ABC, Aero Club, Assen, Camana. O domingo era um dia especial, acordar cedo e ir à missa, só tinha pela manhã, as onze horas praia, e o carro dos nossos pais eram convocados, Praia do Forte ou Areia Preta, eram as mais concorridas, não tínhamos culto pelo corpo, e os magricelos e cabeludos eram bem curtidos. Tempo de passar pela ponte velha de Igapó (ponte ferroviária de ferro) com o velocímetro do veículo marcando mais de 100 km/h. Natal das boates em Ponta Negra, na estrada de Ponta Negra, não existia motéis, não existia drogas, não existiam assaltos, Natal dos poetas, dos seresteiros, dos namorados.

Mas voltando a minha musa, o nosso tempo passou e ela passou comigo, não sei para onde foi, ou a onde está, sei que é medica, e que a vida nos causa estes momentos, que são muitos bons ter vividos. Charles Chaplin escreveu “ A vida é uma tragédia quanto vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe”

E assim se passam 55 anos que eu não vejo mais aquele belo rosto, aquele belo sorriso que marcou a minha juventude.

 

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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