Nada como a proximidade do Natal e do Ano Novo para despertar reminiscências, trazer à lembrança os tempos bons, as alegrias encontradas nessa jornada que, confessemos, quanto mais longa, com todos os seus percalços e surpresas, melhor.

Desde cedo, a medida que ia ficando mais taludo, comecei a pensar o que fazer da vida. Meus projetos se alongavam, achando que iria viver até os 70. Então, olhando o futuro, era muito tempo. Sessenta anos pela frente! Tempão! Hoje, olhando para trás, um átimo de tempo! Não estou seguro, mas acho que a expectativa de vida do brasileiro médio estava pelos quarenta, cinqüenta anos, no máximo. Na tabela do IBGE que encontrei no Google, a expectativa era de 62,1 anos em 1991. Vê-se que já era um otimista. E continuo sendo. O Brasil ainda tem jeito. Apesar de tudo; mensalão, petrolão, e por aí vai…

Das primeiras coisas que pensei foi em me formar. Ainda não tinha certeza em que, mas descartei de saída a Medicina. Quando via amigos de meus pais, médicos, serem acordados de madrugada, saírem debaixo de chuva, para atender clientes, fazer um parto, descartava logo a profissão. E pensava em outras: engenharia e direito eram as mais desejadas.

Desde cedo, assumi compromisso com meu pai, trabalhando em sua empresa. O que me dificultou sair daqui para estudar fora. Natal não tinha escolas superiores e você tinha que ir para Recife, a cidade mais procurada, ou Salvador e Fortaleza, mais longes mas também escolhidas. Portanto, engenharia, que exigia presença diária, foi logo descartada. Ficou Direito e, seguindo a febre do momento, fui para Maceió. E lá já estavam figuras como Helio Galvão, Ney Marinho, Antonio Barbalho, e tantas outros de geração anterior. Comigo, fizeram vestibular Moacir Duarte, Fernando de Miranda Gomes, Altanir Borges, Antonio Rodrigues de Carvalho, Roberto Varela, Valmir Targino, entre outros, e iniciamos lá o nosso curso. Alguns se transferiram depois para outras escolas. Eu e a maioria terminamos em Maceió. Nos permitia uma ausência controlada e, desde que tivemos sucesso nas provas diversas, e assistíssemos um certo número de aulas, não teríamos maiores dificuldades. Aliás, Recife também oferecia essa facilidade. E lá me formei dias atrás, 1954, 8 de dezembro a Colação de Grau. Sessenta anos! Como o tempo é apressado!

Quando voltei, doutor, como se enfatizava naqueles tempos, fui trabalhar com um parente, dono de um dos melhores escritórios locais, e gostei. Mas, continuei ajudando meu pai, embora sentindo que não era exatamente o que queria. “Noblesse oblige”. Tive uma dificuldade com o meu parente e deixei o seu escritório. Nesse ínterim, recebi um convite dos Professores Ulisses de Góis e João Wilson Mendes Melo para lecionar na Faculdade de Ciências Econômicas. E comecei a ensinar Inglês na SCBEU. Final dos anos cinqüenta. Isso alterou minha rota. Fiz concurso para ensinar Inglês na UFRN. E me engajei completamente com o ensino. Fui fazer Mestrado nos EUA em 1964 e, quando voltei, deixei definitivamente a empresa. Já contando com meus irmãos, me dispensava totalmente de mais compromissos. E na UFRN fiz a minha vida.

Hoje, olhando para trás, um longínquo “para trás”, sinto que fiz tudo certo. E nada para lhe dar maior satisfação do que não ter do que se arrepender. Provavelmente, alguém que leia até o fim pode pensar: que besteira, a quem diabo interessa isso? Para mim, o valor é intrínseco. E talvez sirva de exemplo. Se não é querer muito.

Dalton Mello de Andrade – Ex- Secretário Estadual de Educação e ex- Pro-Reitor da UFRN

Ponto de Vista

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