Carlos Alberto Josuá Costa

Pronto, foi diagnosticado: tenho “Livrite aguda”.

 Vou explicar. Mas antes farei um histórico que me levou a essa situação.

Vejamos. Conheci lá na minha formação biológica uma senhora chamada Luiza Josuá Costa, que tinha como hobby devorar conteúdos de livros, os mais diversos. Quando botei os olhos no mundo e comecei a distinguir as formas dos objetos, fui impingido pela hereditariedade e sem perceber que era contagiosa fui galgando degraus de existência sem nenhum antídoto adequado. Não ficou por aí.

Conheci também um senhor de nome Ranilson Costa, que durante meus primeiros passos juvenis, me administrou uma dose de “Tesouro da Juventude” que aguçava meu apetite.

 Comecei então evoluir sintomaticamente, induzido por outros tipos de incentivos, ao ponto de permear desde “Soldadinho de Deus”, “Almanaque Biotônico Fontoura”, “O Cruzeiro”, “Fatos e Fotos”, “Revista dos Esportes” à cronicidade de bulas de remédios e folhetos de propaganda.

Acreditava eu que lendo bulas ficaria curado?  Ledo engano.

Bem, esta senhora e este senhor, pelos quais tenho enorme devoção e respeito, são meus saudosos pais.

Minha mãe tanto lia quanto era crítica com o autor e sua mensagem. Gostou do livro? Se um sorriso surgisse, podia pegar empresado que também ia gostar. Se um entortar de canto de boca: ia para o limbo.

Meu pai ressaltava: lendo se aprende a escrever, ou ainda, lendo se conhece o mundo.

Portanto leio muito.

Ainda hoje, enquanto espero atendimento em um consultório médico (não para tratar esta causa), leio todas as revistas disponíveis, mesmo aquelas que datam de dois, três anos antes. As páginas amareladas e “salivadas” excluindo os artigos que tratam de tecnologia parecem atuais: violência, corrupção, mudança de legenda, e disse-me-disse dos colunáveis.

Abro um espaço para ressaltar duas figuras do mundo dos livros: Nadir Wanderley de Carvalho (Livraria Universitária) e Luis Damasceno (Cooperativa Cultural UFRN).  Ambos permitiam que folheasse tantos livros quanto quisesse, mesmo que não adquirisse nenhum, apenas com mais um incentivo: próxima semana chega novos livros!

Bem, assim fui comprando um livro aqui outro acolá e quando me dei conta estava envolvido por volumes preciosos que retratavam as cenas, emoções e sentimentos de cada autor.

Poderia listar uma série de livros que me fizeram melhor. Mas não é o propósito. E sim descrever um fragmento do mundo da leitura.

Como os espaços disponíveis foram sendo gradativamente ocupados, eis que chega ao meu quarto: e duas estantes dão aquele charme (Cléa não acha nada disso).

Diante de tanta insistência: “daqui a pouco isso vira um sebo”; “faça uma seleção”…

Fiz. Separei aqueles que não me eram mais afins, olhei para a capa de cada um, folheie-os num último adeus e ensaquei-os.

Levei para a calçada e lá deixei esperando o carro do lixo que passaria daí a um tempo.

Sentei na varanda e só pensava naquilo (os pobres dos livros). Num instalo: Ei! E os livros?

Num impulso e a um novo pulsar do coração, corri até a calçada e para minha felicidade eles estavam ali. Trouxe-os de volta.

Agora utilizo outra estratégia: quando tem reunião de família, arrumo-os num canto da sala e coloco uma placa: “Escolha e leve para casa. Não precisa devolver”.

Por que não doa a uma biblioteca?

Deixa-me triste ver as bibliotecas de hoje transformadas em túmulos de conhecimento.  Falta alma pulsante. Falta criatividade. Falta despertar alternativas para um novo público leitor.

A propósito, você tem olhado para aquele livro esquecido em algum canto de sua casa? Faça as pazes com ele e dê oportunidade a outro “acometido” alimentar sua ânsia.

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor (josuacosta@uol.com.br)

Ponto de Vista

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