Dalton Mello de Andrade

Natal foi rica em tipos populares. Lembro-me de muitos, alguns que conheci, outros sobre os quais escutei. Dos que não conheci, mas muito falado por meu avô, Capote Molhado. Também falava de um Capa Verde, que parece ter sido líder dos protestantes naquele tempo e que, por isso, muitos se referiam aos protestantes como “capas verde”.

Quero falar dos que conheci. Ainda menino, lembro-me de Raimundo Bamba, cego, tocava um instrumento, acho que realejo, vendia bilhete de loteria, e conhecia o povo todo da Ribeira pela voz. Toda semana meu pai comprava um bilhete dele. Ou comprava de Zé Areia, talvez o mais famoso de todos, espirituoso, com estórias homéricas e verve inesquecível. Zé Menininho, outra figura marcante, com sua sanfona e um pequeno grupo que fazia seu “conjunto musical”. Esses eram muito conhecidos.

Outros, menos conhecidos. O Conde, que era dono de tudo, da Casa da Moeda ao Banco do Brasil. Todos alimentavam essa megalomania. Chegava num dos caixas do Banco e dizia – minha mesada – e a maioria dos caixas lhe dava um dinheirinho. Eu mesmo vi, muitas vezes, Lídio Madureira (grande figura), no BB, dando uma prata a ele. Maria Mula Manca, com a sua bengala pesada, que fazia medo à meninada. E a sempre lembrada Severina, com sua faixa de Coordenadora Geral do Estado. Figura, que me visitou várias, sempre recebida por mim com todas as honras, quando fui Secretário de Educação. Que assim era também recebida por muitos governadores, Cortez inclusive.

Hoje, essas figuras desapareceram. A modernidade, o crescimento da cidade, as maiores dificuldades de vida, parece não permitirem o surgimento desses personagens. Atualmente, conheço apenas um, que se poderia comparar, de alguma forma, a alguns desses tipos. Lembrei-me de Carrapicho.

Carrapicho se aproxima muito de Zé Areia. Sempre de chapéu de couro, uma palavra sempre final quando se fazem piadas com ele, simpático, e uma grande virtude – não chateia ninguém. Era habitue no Clube dos Cem, oferecendo suas bugigangas. De vez em quando, vinha em minha casa, trazer-me novidades. Que eu sempre comprava. Nunca mais apareceu e não sei por onde anda. Gostava de conversar com ele, que tinha um papo divertido.

E tem estórias ótimas. Assisti ele oferecer um relógio, a um amigo, que perguntou, quanto é? 150. Meu amigo disse, dou 30; e ele, é seu. Ao outro, ofereceu um  despertador. O cliente disse – bote para despertar em quinze minutos. Não despertou e o amigo: esse bicho não funciona! Também, o senhor não dormiu, foi a resposta.

São facetas prolíficas numa cidade pequena e que desaparecem nas cidades grandes.

Dalton Mello de AndradeEx secretário de Educação do RN

 

Ponto de Vista

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