ORGANIZAÇÃO, OU DESORGANIZAÇÃO? – 

O meu bureau nunca teve um pedaço de papel solto em cima dele. Outros acumulam tanto papel, que você não vê nem a mesa. Questão de estilo. Sempre fui assim. Poderia até não ser eficiente, mas quem via minha mesa achava que eu era o tal.

Por todos os lugares que andei era assim. O último foi na UFRN. Quando assumi a função de Pró-Reitor encontrei uma quantidade de processos em andamento. Dei prosseguimento àqueles que julguei necessários. Nesse meio, encontrei uma penca de processos para contrato de professores visitantes, muitos estrangeiros. Estava na moda. Como não julguei que houvesse pressa, os guardei na pasta “assuntos que o tempo resolverá”. E fiquei esperando que os proponentes viessem reclamar a demora. Estive por lá dez anos e nunca apareceu alguém com essa reivindicação.  Tinha mais duas pastas: uma para assuntos resolvidos, outra para assuntos que dependem de um pouco de tempo para resolver e essa, para “assuntos que o tempo resolverá”. Não é invenção minha. Aprendi com um amigo, que garantiu sua utilidade. E que confirmei.

Havia uma quantidade de professores visitantes. Alguns muito contribuíram para a UFRN. Outros, nem tanto. Havia um alemão, na área de engenharia mecânica, que inventou uma máquina que, ao final, parecia um fogareiro daqueles que você comprava na feira do Alecrim por um vintém furado. A mulher jogava tênis, e bem. Quando terminou o contrato e ele foi embora, não deixou saudades, mas os companheiros de tênis dela sentiram sua ausência.

João Rodrigues, da Livraria Internacional, era meu amigo. Aparecia por lá no final do dia, para bater um papo, ver se havia algum livro novo. Ele sempre estava atarefado, e o seu bureau sempre cheio de papéis. Certo dia, o encontrei esbaforido, revirando os papéis que estavam em cima da mesa e perguntei: Perdeu algum documento, o que está procurando? E ele: minha máquina de escrever, está perdida aqui no meio desses papeis. Continuou procurando e achou a máquina. Uma dessas Olivetti pequenas que acho se chamava “Lettera”.

Uma outra estória muito boa aconteceu no Pentágono. Um capitão da Marinha vivia assoberbado, mesa cheia de papeis, e tinha que chegar muito cedo e sempre saía mais tarde que os outros. O vizinho de mesa chegava na hora, saía na hora, e não tinha uma só folha de papel no bureau. Um dia, não resistiu e perguntou o que ele fazia para ser tão eficiente. Respondeu; muito simples; não há uma base que não tenha um Capitão Smith. O que chega na minha mesa, eu despacho: ao Capitão Smith. E o outro, eu sou o Capitão Smith!

É tudo uma questão de eficiência, coisa cada vez mais rara.

Dalton Mello de AndradeEx=secretário de Educação do RN

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