A VIDA MANSA QUE SUSTENTA O MUNDO –
“Vida mansa.” Foi assim que ele foi descrito. Porque varre a casa, lava a louça, a roupa… e não quis sair para “trabalhar”. Como se o lar não fosse um campo de batalha invisível. Como se o cuidado não fosse trabalho, o silêncio da casa limpa não fosse o eco de um esforço diário, repetitivo e exaustivo. Para deixar bem claro, o ponto principal não é sobre sair para labutar, mas, sobre a relevância do duro que damos dentro de casa, se não bastasse, essa tarefa é diminuída gratuitamente pelo preconceito, machismo, misoginia e tantas coisas mais.
Tem um ditado que diz: atirou no que viu e acertou no que não viu. O tiro acertou em mim, mulher, mãe, esposa, que sai todos os dias para trabalhar e volta para casa para continuar o terceiro expediente. O comentário veio carregado de desprezo. Não por ele, apenas. Mas por tudo o que representa o cuidado e zelo pelos nossos. Por tudo o que, historicamente, foi empurrado para as mãos femininas — e desvalorizado por isso. Como se o valor de uma pessoa estivesse no crachá, e não no afeto. Como se o suor só fosse legítimo se pingasse apenas fora de casa.
Mas o que incomoda, na verdade, é o espelho. É ver um homem fazendo o que tantos se recusam a fazer. É ver alguém ocupando um espaço que sempre foi invisível — e, por isso mesmo, essencial. É perceber que o mundo gira porque alguém limpa, cozinha, educa, acolhe. E que esse alguém, por séculos, foi uma mulher. Quando um homem assume, por algum motivo, o cuidado do lar, ele não está fugindo do trabalho. Está, talvez, se aproximando da realidade de tantas que sustentam o mundo com as mãos calejadas de amor, renúncia e desprendimento. E se isso ainda causa riso, deboche ou desprezo, é pelo “simples fato” que o machismo ainda dita o que é digno — e o que é “moleza”.
Mas não há nada de fácil em cuidar. O que há é coragem. Coragem de romper com o script. De desafiar o riso alheio. De entender que masculinidade não se mede pela distância da pia, mas pela presença no cotidiano. Pela disposição de dividir o peso. Pela escolha de ser parceiro, não patrão. E para os que apontam o dedo, talvez seja hora de olhar para dentro de si, enxergar sua casa, ver a pia, o vaso sanitário, o lixo que se acumula e apodrece a mente de um insensato. Que tal se perguntar por que tanto incômodo? Por qual razão tanto medo de perder o trono da indiferença? Qual o verdadeiro objetivo para tanto esforço em manter o mundo dividido entre quem manda e quem serve?
A verdade é que o lar não é prisão. É trincheira. E quem cuida dele, cuida de todos nós. Então, da próxima vez que alguém disser que isso é “vida mansa”, que lavar a louça é “falta de ambição”, que varrer é “coisa de mulher”, lembre-se: o mundo só funciona porque alguém faz o que ninguém quer ver. E talvez, só talvez, seja hora de todos nós — homens, mulheres, todos — revermos o que realmente significa trabalhar. Sim, lugar de homem pode ser na cozinha, qual o problema?
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crônicasflaviaarruda@gmail.com
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