A MOLDURA QUE NÃO ME SORRI –
Sentei-me à janela, busquei recostar-me a cadeira para uma posição mais confortável. Dei início a arrumação do meu espaço de trabalho, posicionei minha tela imaginária e preparei os pinceis do pensamento. Para isso, reservei o solvente que serviria para diluir a estranheza das minhas ideias, separei as tintas, à óleo, para que, com a secura da minha resistência, pudesse imprimir brilho e suavidade nas visões que eu projetaria.
Separei muitas bisnagas, desde as cores primárias até as inovações da modernidade. Queria, a todo custo, permitir-me ver, ilusoriamente, a cena que a janela não me mostrava: a janela das minhas impressões. A tempos não sofria tanto com um pensar.
Vou confessar, passaram-se dias até que eu vencesse a minha inabilidade em olhar para aquele cenário com outros olhos. Pensava comigo mesma: “tente imaginar-se na hora do recreio, divirta-se, tire o melhor daquilo que se tem”. Eu sei, a carne é fraca, e nem sempre os pensamentos podem viver passando por lava-jatos.
Não poderia postergar-me o prazer de uma leitura contemplativa diante de uma proposta semiótica, desafiadora. Arrisquei alguns traços, tentei incutir, nos espaços vazios e rasos da tela, um pouco da proposta engenhosa do marco da arquitetura moderna e política do Brasil: o Congresso Nacional.
Eu olhava para o horizonte, meio que, sem esperanças de um futuro promissor, isso, diante de tantos escândalos e movimentos contraditórios, antiéticos e vexatórios. Visualizei, mais uma vez, o meu objeto de sofrimento.
De onde eu estava, podia ver duas bacias, uma menor, emborcada, e outra maior, virada para o céu, entre elas duas estruturas imponentes, amarradas por um cordão, que não sei se seria umbilical, talvez fosse, já que as torres são gêmeas. Ou, poderia ser um varal para estender ideias e razões da Humanidade, de um povo sofrido que luta pelos seus direitos e pelo mínimo de dignidade para se viver em solo pátrio.
Ando meio à flor do congresso, sei lá, deve ter alguma ligação com a minha TPM. Na tela, que tentei desenhar as linhas retas da modernidade, entre côncavos e convexos, entre ilusões e ideais, entre acertos e erros, juntando e separando àquela moldura que se expunha em meus arquivos, configurou-se em contrários e “desdizentes” proclames, que muitas vezes não me diziam nada.
Emborcada ou desvirada, a humanidade anda meio tonta com tantas inversões de valores, de bacias cheias de indignações, indagações, anseios e necessidades, enquanto outras andam vazias de equilíbrio, ponderação e reflexões. Tudo muito notório e contraditório. A imponderabilidade, diante dos recortes de pinturas que minha insana mente capta, trava-me em silêncios que insistem em chiar, resmungar e esbravejar com pincéis que retocam os traços poéticos de um povo que não se deixa abater e vai à luta, atiçando as cores quentes e vibrantes, que retratam a tela que, logo mais, ajudaremos a emoldurar.
*Texto da Antologia Exercícios Literários (Café&Poesia), organização do escritor Raí Lopes, editado pela Sarau das Letras-2018.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros As Esquinas da minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, crônicasflaviaarruda@gmail.com
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