VIRAMUNDO 10 –

Sexta-feira, final da tarde, chovia fino e Edileuza vinha pelo meio da rua, gesticulando, cabelos desgrenhados e eu perguntei: Lelê o que é isso?

– Tô puta da vida. Faz uma semana que minha patroa não me paga e se faz de doida. Nem fala no assunto. Só diz que está apertada e as vendas no cartão não foram creditadas. Que segunda-feira pagaria.

Ai é foda. Passar o final de semana sem dinheiro. Alias por falar em foda vou sair mais tarde, dar um rolé pra ver se encontro alguém pra ficar e arranjar um dinheirinho.

– De quanto você precisa?

– 200 paus.

– Não precisa se prostituir por essa merreca. Eu empresto e você depois me paga.

Ela se jogou em cima de mim e com aquele cheiro de suor, me abraçou demoradamente, chorando.

– Você é amigo, mesmo. Não sei o que faria sem você. Vai passar em casa pra pegar a grana ou tem ai?

– vamos ali no Caixa Eletrônico que eu saco e te dou.

Lelê pegou a grana, passou no mercadinho e saiu de lá com banana arroz, feijão, pão, leite e uma caixa de cerveja Skin.

Ainda sobrou uns 20 merreis.

Fui com ela até sua casa.

Sentada no sofá da sala, uma menina de seus 12 anos cuidava de Riquinho, o filho dela, de 3 anos.

– Dona Lelê, seu Raimundo passou aqui e deixou esse envelope pra senhora. Quando abriu eram duas notas de 100 reais. Na hora entregou ao amigo. – Pronto, taí seu dinheiro de volta. Deus é grande.

– Chiquinha arrume essas coisas e faça um cafezinho pra jantar. Eu e  Toinho vamos tomar uma cervejinha pra relaxar. Amanhã eu não vou trabalhar, como aquela musica de Roberto Carlos.

– você fuma Lelê? Não, tenho ódio de cigarro, por isso que só bebo em casa. Mas eu posso fumar? Não. Só se for lá fora. Diabo de vicio danado.

Lelê fez o Curso da Feroli, de segurança privada, mas não conseguiu emprego na área. Gastou uma grana preta e nada. Já faz 3 anos. Aprendeu defesa pessoal, Kraj Maga, atira com a mão esquerda muito bem, mas trabalho que é bom, nada ainda. Perdeu a esperança e agora trabalha numa lanchonete.

Bota uma musiquinha ai pra animar. Ela botou o último disco de Amado Batista e chorou se lembrando de um grande amor.

– Ah! Queria tanto voltar a ser feliz. Não consigo namorar mais ninguém. Os homens de hoje só querem saber de ficar bombado nas academias. É uma ruma de viado.

– E pra fazer você ficar feliz, o que precisa?

– Dar um abraço em Amado Batista.

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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