UM MODELO DE ESTÉTICA SURGIDA NO TEMPO DE LAMPIÃO – Luiz Serra

UM MODELO DE ESTÉTICA SURGIDA NO TEMPO DE LAMPIÃO QUE SE ALASTROU PARA AS DANÇAS E A ARTE DO FOLCLORE NACIONAL –
“Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa” (Ariano Suassuna)
Naqueles dias de sol em brasa e transgressão inculpável …
Bastava mencionar o nome de Lampião como estando nas proximidades de um vilarejo do sertão era o suficiente para que muitos corressem para os matos e serrotes. Ficavam nos caminhos os que se beneficiavam de seus óbolos, para sustentar os ditos coiteiros; talvez esta a maior estratégia do astuto Lampião para se manter a salvo de tantas caçadas e duelos ao longo de vinte anos.
Mas por que o cangaço, que se exauriu com a morte de Corisco em 1940, deixou rastros na mídia, nas letras, no cinema, e, principalmente no folclore com as indumentárias estilizadas por Virgulino Ferreira da Silva?
O mestre Câmara Cascudo registrou que nas acampadas do bando em esconsos retiros da caatinga Lampião se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, numa arte singular, as roupas, lenços, cinturões, bornais (peça que Dadá de Corisco deixou marca de remate artístico). Maria Bonita ao se incorporar ao bando passou a tecer lenços de sua lavra, com a estimulação do companheiro Lampião. A cada peça ou elemento do liforme lá estava a exibição de bordados com flores, estrelas e símbolos místicos.
Para Virgulino a exibição dos uniformes ostentatórios, com o apuro estético, elevava a autoestima e laivos de poder, perante os coronéis e chefes políticos, além de despertar a admiração no povo das caatingas, pobres e apartados do alcance estatal.
E todo esse aparato colorido e envaidecedor se revelava a cada passagem do bando, em meio a sequência de recontros com volantes de contratados que vinham de toda parte, dizer que se cometiam excessos é pleonasmo! Tanto as milícias quanto cangaceiros ousavam legitimar atos de degola, assassínios, estupros e assaltos, estes com a irrisória tacha de bandeiras sociais.
Um livro que mergulhou nesse universo de cultura tratando dos requintes, da significação dos entalhes e peças, está em Estrela de Couro – Estética do cangaço, de Frederico Pernambucano de Melo. Traça um exame minucioso das origens das representações e desenhos, a exemplo do signo de Salomão, da cruz de malta medieval, a flor-de-lis, das variações amealhadas na flora da caatinga, além das combinações atinentes a cada cangaceiro. Assim se fez um tempo de glórias efêmeras, suor, destemperos e lágrimas.
Luiz SerraProfessor e escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,3730 DÓLAR TURISMO: R$ 5,5580 EURO: R$ 6,259 LIBRA: R$ 7,1290 PESO…

15 horas ago

Netflix fecha acordo para compra da Warner Bros. Discovery por US$ 72 bilhões

A Netflix anunciou na manhã desta sexta-feira (5) acordo de compra dos estúdios de TV e cinema…

16 horas ago

Suspeito de participar da morte de menina de 7 anos na Grande Natal é preso

A Polícia Civil prendeu nessa quarta-feira (3), em Natal, um dos suspeitos de partipação na morte da…

16 horas ago

Dino marca para fevereiro de 2026 julgamento do caso Marielle na 1ª Turma do STF

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta sexta-feira (5) marcar para os…

16 horas ago

Investigado por contrabando é preso ao ser flagrado pela PF com material de abuso sexual infantojuvenil

A Polícia Federal prendeu um investigado por contrabando de cigarros em flagrante após localizar material configurado…

16 horas ago

Justiça manda Airbnb ressarcir despesas médicas de cliente que ficou paraplégica após acidente em hospedagem

A Justiça do Distrito Federal determinou que o Airbnb pague, na íntegra, os custos de uma…

16 horas ago

This website uses cookies.