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Superfungo: especialistas explicam alcance e riscos do Candida auris

Em menos de uma semana, três pessoas de Pernambuco foram diagnosticadas com um “superfungo”. E um hospital de alta complexidade deixou de receber novos pacientes para evitar o aumento da contaminação.

O fungo Candida auris se espalha silenciosamente pelo mundo. Segundo especialistas, ele pode não oferecer risco às pessoas saudáveis. Mas para quem tem um sistema imunológico debilitado, pode levar à morte.

Um exame pré-operatório, de rotina, na UTI de um hospital em Paulista, região metropolitana do Recife, revela que um paciente de 48 anos, diabético, está com o superfungo Candida auris. Vinha passando por procedimentos cirúrgicos para tratar de uma necrose no pé esquerdo.

Com o diagnóstico, o homem foi isolado e o hospital fechou as portas para novos pacientes. A medida drástica foi tomada porque ele havia passado por vários setores.

“Esse hospital, ele tá fazendo atendimentos de urgência, não estão sendo admitidos pacientes a nível de procedimentos de internamento. É uma situação que está restrita, controlada e sofrendo intervenção de vigilância rotineiramente pra que a gente possa, de fato, garantir a segurança dos pacientes”, diz José Lancart de Lima, diretor-geral de informações epidemiológicas da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.

Três dias depois, em outro hospital público, de Olinda, mais um caso. Desta vez, o superfungo foi encontrado num homem de 77 anos, que tratava das sequelas de um AVC, um acidente vascular cerebral.

Em 25 de maio, em um hospital particular do Recife, um paciente – de 66 anos – internado com doença renal crônica, é também diagnosticado com Candida auris. Três casos de contaminação por um fungo pouco comum, de difícil tratamento, em três hospitais diferentes do estado.

“Não temos nenhum tipo de identificação de cadeia de transmissão epidemiólogica que crie vinculos entre esses pacientes”, diz José Lancart de Lima.

Candida auris é um fungo que foi identificado – pela primeira vez – no Japão, em 2009. E logo se espalhou. Há casos registrados na Europa, África, Ásia, Oceania e nas Américas. Aqui, foi em 2020.

O primeiro caso foi num paciente que estava internado na Bahia. Entre 2021 e 2022, houve surto de Candida auris no Recife. O maior já registrado no país, com 48 notificações.

“Houve uma busca ativa importante de colonizados, por isso que a gente achou tantos pacientes colonizados”, diz Arnaldo Lopes Colombo, professor de infectologia da Escola Paulista de Medicina.

Significa que havia fungo habitando a pele e outras superfícies do corpo, mas não havia infecção por Candida nesses pacientes. A Unifesp e a Fiocruz participaram das pesquisas desses casos brasileiros.

“Esse serviço de monitoramento desses casos impediu uma elevada taxa de mortalidade desses pacientes devido a essa sinalização rápida da ocorrência da Candida auris nessa unidade hospitalar. A gente precisa ter o isolamento dos pacientes e a limpeza das áreas onde tem esse fungo presente”, diz Manoel Marques Oliveira, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Os especialistas dizem que não vai ser num lugar comum que as pessoas que estão bem de saúde vão contrair Candida auris e ter problemas. O perigo mesmo está dentro dos hospitais, especificamente entre os pacientes com sistema imunológico debilitado, aqueles que estão internados há algum tempo.

As regiões do corpo onde o fungo Candida auris costuma ficar são: ouvidos, narinas, axilas e virilhas. Nesta fase, não há sintomas. Mas um machucado, uma ferida na pele ou o uso de algum tipo de catéter no hospital, pode dar a chance de que esses fungos entrem no corpo, atinjam a corrente sanguínea e provoquem uma infecção. Em casos graves, podem até prejudicar órgãos como o coração e o cérebro. É quando o paciente pode ter febres, calafrios e o agravamento de doenças que o levaram ao hospital.

“Qual é o terror associado a Candida auris? é a velocidade com que ela vem se expandindo em hospitais do mundo todo. Sobrevivência no ambiente hospitalar e rápida evolução pra resistência”, diz Arnaldo Lopes Colombo, infectologista e diretor do Laboratório Especial de Micologia da Unifesp.

Dos cinco padrões genéticos desse superfungos, os dois que estão no Brasil até agora – por sorte – são os que ainda respondem a medicamentos.

Os cuidados num hospital devem ser levados à risca. Os superfungos podem ficar um bom tempo entre os equipamentos. Num quarto, por exemplo, eles já foram encontrados nos trilhos das camas, nas bandejas, nos equipamentos que controlam os sinais vitais e estetoscópios.

Em março deste ano, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) já tinha alertado para o ritmo alarmante com que a espécie Candida auris se espalha nas unidades de saúde.

“Na cidade de Nova Iorque nós temos mais de 2 mil casos entre colonizados e infectados e descritos. Se a gente não atuar de forma séria, rápida, precoce, para conter a expansão disso nos nossos hospitais, sim, a gente pode ter surtos envolvendo aí mais de mil pessoas”, diz Arnaldo Lopes Colombo.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou orientações e o Ministério da Saúde acompanha os casos de perto. O Hospital Português – que é particular e fica no Recife – não quis comentar o caso. Segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco, os três pacientes com superfungos passam bem.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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