SEXTA NO SHOPPING –

Certa sexta-feira, após sair de uma sessão de cinema, fui encontrar Edilza na Praça de Alimentação do shopping onde estávamos. Era o feriado de N. S. Aparecida. Repartições fechadas, trânsito livre, tarde amena, poucas pessoas nas ruas, mas o shopping fervilhando de gente – a invenção dos gringos é sucesso em nosso país.

Justificam-se, sim, tantos shoppings inaugurados ou em construção Brasil afora. As vantagens de frequentar aqueles ambientes fechados e refrigerados são variadas: limpeza impecável, temperatura amena, iluminação agradável, cardápios diversificados, boas opções de compras e de lazer, além de segurança – espera-se, né?

Num shopping o cidadão encontra de quase tudo para o seu regalo. Monotonia não tem espaço por lá, pois o burburinho é a marca registrada daquele complexo de vendas. Daí porque não acharmos ali vivalma meditando ou em complacente oração. Pode-se até encontrar alguém em ação de graças, mas, somente pelo fato de lá estar desfrutando do ócio.

É o tipo de aparelho comunitário concebido para relaxar, perder a noção de tempo, esquecer as preocupações e as dificuldades da vida, tentar satisfazer desejos reprimidos, imaginar-se rico, alimentar a ambição, tornar-se perdulário e fazer a festa de comerciantes.

E tem mais. Um dos maiores atrativos do shopping é possuir estacionamento próprio. A comodidade decorrente dessa particularidade é imensa. Além do conforto de parar o automóvel no pavimento que desejar visitar, existe a certeza de encontrá-lo no mesmo local quando retornar das compras. Melhor ainda se não pagar pela permanência na garagem.

Existem pessoas com mania de shopping, que encetam peregrinações diárias ao mesmo. Jamais chegarei a esse estágio, pois já estabeleci mil e tantas outras coisas para fazer, degustar, conhecer e desfrutar antes que a “moça Caetana” venha me buscar – definição do escritor Oswaldo Lamartine para o “anjo da morte”.

Mas, deixemos a apologia ao shopping de lado e vamos ao que interessa naquela minha sexta-feira no templo do consumo. Poucos minutos após chegar à praça, apareceu-me a esposa. A mesa onde nos sentados permitia uma visão privilegiada da faixa de maior circulação do ambiente.

E haja o transitar de gente. Permaneci por mais de uma hora diante de uma caneca de chope sem identificar sequer um rosto familiar. Aquilo começou a me preocupar. Procurei consolo falando com os meus botões: “Os conhecidos logo chegarão!”. Lá se foram mais 60 minutos e nadica de nada.

Finalmente perguntei a Edilza: “Estamos mesmo em Natal?”. Sua resposta foi desoladora: “Vá logo se acostumando, pois daqui em diante essa sua espera só vai piorar!”. Ela havia percebido minha ansiedade, mas estava consciente e resignada da cruel realidade que vivenciávamos.

Eu não quis me estender na conversa. Nem precisava. Tudo estava resumido naquela sua curta manifestação. Convenci-me de que sem agendamento, shopping não é ambiente apropriado para encontrar amigos ou conhecidos que construíram conosco histórias de vida. Por algumas horas esquecera-me de que novas gerações haviam ocupado o nosso espaço.

Relaxei, pedi outro chope, e me propus ficar admirando a beleza da juventude feminina sarada de hoje, que desfila seu charme nas passarelas populares dos shoppings perante plateias de marmanjos embriagados de tanto colírio para os olhos.

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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