SER VELHO – Adalberto Targino

SER VELHO –

Ser velho é ter ultrapassado os umbrais da infância, puberdade, adolescência, maioridade, maturidade… É, em alguns casos, descambar para a senilidade ou desgaste físico e mental absolutos. É, em quaisquer circunstâncias, ter uma história individual, uma trajetória, um passado, uma prestação de serviço, elevado ou simples, mas sempre significativo.

Se na velhice alguém não afugentar antigos demônios da vaidade, da auto-suficiência e da arrogância, jamais terá outra chance de se reavaliar. Ninguém mais do que o ancião tem como conhecer, amiúde, a insignificância do saber intelectual, do ter, do acumular riquezas, da fragilidade física e da solidão do ser humano.

Envelhecer com dignidade espiritual e sabedoria filosófica é alcançar os píncaros da glória, é santificar-se em plenitude. È a beatitude ou o nirvana dos budistas…

Por isso, é que todos os povos e civilizações colocam os mais velhos num pedestal de respeito e consideração.

O Brasil, entretanto, por ser um país de memória curta e que não preserva sequer a boa imagem dos seus heróis, não tem respeitado aos seus idosos, e, por via de conseqüência, aos seus aposentados… pobres aposentados!… chamados de vagabundos… assaltados em seus proventos… achincalhados por um matilha de lobos vorazes encastelados no poder, que abocanham parte dos seus salários, como hienas diante dos estertores da morte de suas vítimas.

Mundialmente, a partir do budismo, do judaísmo, do cristianismo, do islamismo e até dos silvícolas africanos e norte-americanos trataram ou tratam com a maior deferência os provectos, os avançados na idade e no tempo. Os vetustos conselhos dos anciões – desde o Velho Testamento – que o digam do valor decisório e tradicional dos mais velhos.

Qualquer pessoa pretensamente educada, de boa formação familiar, sempre dispensa um tratamento excepcional a um velho, e o faz convicto da aprovação de sua consciência pessoal e do aplauso de fatia da população dita honrada e de índole superior.

Nesse pensamento arraigado dos homens de bem, que se contrapõe aos insensíveis e egoístas canastrões, surgiu o Estatuto do Idoso, uma lei do coração, que precisa ser fiscalizada, senão tornar-se-á mais um papel morto na ainda reinante cultura da mesquinharia, da sandice, da lei de Gerson, da destruição dos valores transcendentais, dos que egocentricamente vivem o presente, pisando o passado e condenando a própria posteridade.

Todavia, o Estatuto do Idoso, trouxe um alento, uma esperança. Porém, necessita de urgente e inadiável instrumentalização, notadamente com a criação de Varas do Idoso e de Curadorias do Ministério Público de defesa dos mesmos em cada cidade importante das Unidades Federativas.

É preciso que alguns soberbos jovens de hoje, que exercem alguma autoridade ou poder, se conscientizem de que um dia todos seremos velhos. Enfrentaremos os mesmos percalços, passaremos pelo mesmo vale de lágrimas, omissão, indiferença que muitos passam nesse momento.

Até mesmo o salmista, o poderoso, o justo e corajoso Rei Davi ao sentir a proximidade do ocaso da vida, implora a Deus em oração: “na minha velhice não me rejeiteis; ao declinar de minhas forças, não me abandoneis”.

Na esteira desse raciocínio, indago, perplexo: por que o idoso vive na sociedade brasileira uma situação de abandono, apesar das Leis e dos discursos demagógicos? Por que as novas gerações não respeitam os mais velhos? Por que não lhes dão voz, vez e consideração mínima?

O eminente Teólogo e Filosofo Leonardo Boff nos ensina “a exclusão do outro está na base do terror moderno”. E nada mais aterrador que uma família, uma nação, sem um referencial, um exemplo, uma luz, enfim, um paradigma focados nos nossos antepassados, nos nossos velhos…

 

José Adalberto Targino Araújo – Advogado e professor, Presidente da Academia de Letras Jurídicas/RN  e catedrático da Academia Brasileira de Ciências Morais e Políticas.

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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