SAGRADO DEVER CÍVICO – José Narcelio Marques Sousa

SAGRADO DEVER CÍVICO –

Quando criança vi certa vez meu avô, Francisco, colocar o seu único terno de linho branco, pôr o chapéu “Ramenzoni” cinza, calçar o par de sapatos preto e sair de casa numa postura altiva. Curioso, perguntei a avó: “Para onde vai vovô assim vestido?”. Recebi por resposta: “Diz ele que vai cumprir o seu sagrado dever cívico!”.

Pus isso na cabeça e sempre que ia votar eu lembrava meu avô e a sua determinação de cumprir o sagrado dever cívico. Estou desobrigado de votar, mas ainda procuro votar no candidato que, na minha concepção, tenha algum diferencial para ocupar o cargo eletivo ao qual concorre.

Comecemos perguntando o que é política? Na filosofia aristotélica a “Política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética e na política propriamente dita.” Ambas visando a felicidade individual e coletiva daqueles que vivem em comunidades.

Pelos exemplos que nos mostra a política de agora nada disso faz parte da definição apregoada por Aristóteles. Será que os políticos da modernidade ainda visam a felicidade e o bem-estar coletivos das comunidades que representam? Será por pura magnanimidade que desejam ocupar tais cargos?

Será mesmo verdadeiro o altruísmo apregoado por determinados candidatos no calor dos palanques de se doarem para o próximo sem esperar nada em troca? Se porventura não houvesse falsidade em tantas promessas mirabolantes estaríamos diante de pessoas imaculadas, por tanta lisura e comprometidas com propostas que honrariam qualquer mandato.

É desprendimento em demasia vermos candidatos gastando fortunas para obterem retornos salariais incompatíveis ao aplicado, imbuídos tão somente do sacrifício de ver a felicidade estampada nos rostos dos integrantes de suas comunidades.

Paremos de sonhar e acordemos para a realidade dos fatos, pois não “há almoços grátis”. Não se desperdiçam fortunas a troco de nada. Tudo vale quando o objetivo e vencer a eleição. Ao ponto de nem na apresentação das propostas tais candidatos demonstrarem o recato e a dignidade que alardeiam possuir.

Pelo contrário. Hoje em dia, até sob os holofotes e diante de todo o eleitorado é que eles mostram a face oculta, antes tão bem resguardada. Tanto é que xingamentos, cadeirados, palavreados chulos, mentiras descaradas, tudo vale no afã de revelar macheza, coragem e nada de verdade aos correligionários.

Acontece que isso não é privilégio apenas de nos brasileiros, povo subdesenvolvido do Terceiro Mundo. Vemos isso, também, no berço da democracia do planeta: os Estados Unidos da América. Ainda assim, acredito na democracia como a melhor forma de governo, pois nasci nela e nela desejo continuar.

Relembro aqui a história de Diógenes, filósofo grego, que viveu no sec. 4 AC. Dizem que ele costumava caminhar pelas ruas de Atenas com uma lanterna acesa nas mãos, em plena luz do dia, à procura de um único homem honesto. Isso, 25 séculos atrás. Por que então nos escandalizarmos com o que ocorre agora?

Ainda que revoltados com os desmandos produzidos por políticos desonestos não podemos deixar de votar. É difícil separar o joio do trigo, sim, mas continuemos cumprindo o nosso sagrado dever cívico, na esperança de surgir alguns políticos que nos surpreendam positivamente.

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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