Adauto José de Carvalho Filho*

O dia amanheceu lindo.

Um sol radiante surgia e aquecia a tristeza dos cidadãos que viviam dias insustentáveis. A nação perdera o respeito e a vergonha. Tudo eram dissimulações, descasos e mentiras. Não tinha a quem recorrer. Todas as esferas do poder estavam aparelhadas e o domínio do mal parecia inevitável. Os homens públicos usavam o poder para se tornarem mais poderosos, ao custo do empobrecimento da sociedade. De repente, algo inesperado aconteceu. Na Praça dos Três poderes, em Brasília, como um gesto divino, o tempo escureceu e uma intensa tempestade caiu. Os trovões pareciam anunciar boas novas e os relâmpagos eram os únicos lampejos de luz sobre o poder e os poderosos do Brasil. Uma voz grossa e respeitável, como vindo do alto, se fez ouvir: então senhores, querem que eu assuma a minha cidadania?

Silêncio.

Uma série de fatos inexplicáveis começou a acontecer. A presidenta tomou “se mancol” e, do parlatório, um discurso de renúncia, proferido com se fosse uma grande oradora, ecoou nos quatros cantos do país. Tudo era ouvido e visto com incredulidade. Foram tantas mentiras nos últimos tempos que tudo passava a ter duplo sentido. Em seguida, o Vice-Presidente, com uma expressão falsa, se solidarizou com a Presidente e renunciou também. Atônitos, o povo assistia a tudo e sem entender se entreolhavam buscando algum rosto que demonstrasse confiança. Pela ordem, o Presidente da Câmara dos Deputados não quis assumir e pegou o primeiro voo para a suíça onde iria começar uma nova vida vendendo carne enlatada. O Presidente do Senado, desconfiado e como se esperando um japonês, renunciou e voltou para Maceió. Quem seria o novo Presidente?

O Presidente do Supremo. A posse foi imediata. A luz que veio do céu não era para brincadeira. Mais uma surpresa aconteceu. O Presidente do Supremo Tribunal Federal tomou posse e, sem se controlar, viu sua toga se transformar em asas de um enorme morcego e foi direto para o reino de Drácula na Transilvânia. A confusão se fez. Ninguém se entendia. Os militares quiseram assumir, mas algo muito poderoso os impediam de qualquer gesto até que um cabo do Alto Comando Militar bradou: Nós somos uma democracia e temos uma constituição a cumprir. Os generais, boquiabertos, não conseguiram tomar qualquer providência por quebra de hierarquia pelo estranho personagem.

A voz grossa se fez ouvir novamente. Ele tem razão. Ou cumprem a Constituição ou eu assumo minha cidadania. Quem será, então, o novo presidente, perguntou um cidadão. Os Generais continuavam sem ação. O cabo, mais uma vez, bradava a solução: o deputado mais votado nas últimas eleições. O mistério se desfez e o sol voltou a brilhar na Praça dos Três Poderes.

Tiririca era o novo Presidente… E Deus era Brasileiro.

O povo era só sorriso e as autoridades, de repente, ficaram com cara de abestados. Um ex-presidente, o homem com nove dedos, vestindo um finíssimo terno Armani, doado por um empreiteiro, como castigo dos céus, voltava para o interior de Pernambuco de onde nunca deveria ter saído e seria visto como uma aberração da natureza até que uma das suas mentiras lhe ceifasse a vida.

O Brasil fora salvo por um palhaço, mas verdadeiro!

Acordei e, tristemente, ao me atualizar com as notícias do dia, tomei consciência de que tudo estava como antes no quartel de Abrantes. Que bom se Tiririca fosse o presidente, mesmo por noventa dias, e devolvesse o sorriso ao povo e a enganação dos nossos homens públicos tecesse uma impenetrável teia que os separassem do novo Brasil que recomeçava pelas mãos de um palhaço e que motivasse o povo a ter esperança e a acreditar no futuro. Mas, infelizmente, em outros picadeiros, autoridades se faziam passar por palhaços sem a autenticidade de um Tiririca.

* Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, escritor e Poeta.

Ponto de Vista

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