PROSA E VERSO – Armando Negreiros

PROSA E VERSO –

Resgato um recorte – normalmente não costumo guardar – de uma crônica publicada ainda no jornal “Diário de Natal”, sob o título “Pouca & Boas”. Deve ser do final da década de oitenta. O subtítulo é “Na grande área”:

Já recebi algumas repreensões sobre a minha suposta coluna no Jornal do Brasil (naquela época muita gente assinava ou comprava o JB):

– Você devia voltar a contar aquelas estórias engraçadas sobre o pessoal de Mossoró e deixar esse negócio de futebol! (Fazendo confusão com um comentarista esportivo muito lido à época chamado Armando Nogueira).

Se, por um lado, o que é publicado, às vezes, não tem nada a ver com o que escrevemos, por outro, quando cometemos algum deslize podemos atribuir ao revisor que, como nós, não pode contestar. O problema é que, frequentemente, quando se corrige num lugar erra-se noutro que estava correto.

Mas, deixando de lado as elucubrações, contaremos uma clássica dos locutores de futebol que me foi passada pelo colega Ivis Bezerra.

Havia um centroavante do Fluminense chamado Mickey e outro do Cruzeiro cognominado Roner. O locutor de pista, quando não tem o que falar, inventa. Numa tarde em que os dois times – Fluminense e Cruzeiro – se enfrentavam, escutou-se o seguinte diálogo transmitido pelo rádio:

– Veja só, ô Alberto, quanta coincidência neste clássico que se realiza aqui no Estádio Mario Filho, o nosso querido Maracanã. Embora jogando em times diferentes, esses dois jogadores nos lembram aquela famosa dupla do cinema…

– Qual é a dupla, ô Zé Carlos?

– O Mickey & Roner!

E o narrador, do alto da sua superioridade, para demonstrar conhecimentos, passou um quinau no locutor de pista:

– Nada disso, ô Zé Carlos, o Mickey Roney era uma mesma pessoa… a famosa dupla a que você se refere é o Mickey & Mouse…

Se a poesia é necessária vamos reproduzir um bilhete deixado pelo inigualável Renato Caldas para o médico oftalmologista Dr. Manuel Teixeira:

Amigo doutor Teixeira

A velhice é uma porqueira

Que não tem definição.

Além da falta de vista

Todo velho baixa a crista…

É aquela confusão.

Reumatismo! Canseiras!

Na região das cadeiras,

– O velho não é homem, não.

Eu? Da velhice arrenego…

Além de trôpego, cego

Além de cego, babão.

Os óculos que estou usando

E simplesmente enfeitando

Modificando a feição.

Conservo só de danado,

Porque deixando encostado

Em nada altera a visão

Razão porque hoje venho

Ao seu consultório e tenho

Esperança quase rara,

De guiar um calhambeque

E não pagar um moleque

Pra puxar na minha vara

Milagres? Eu não espero.

Porém, francamente quero

Meu caro Doutor Teixeira:

Aumentar as minhas penas

Ao ver das lindas morenas

O rebolar das traseiras.

Armando Negreiros – Médico e Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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