Carlos Alberto Josuá Costa

Nada mais gostoso e penoso quando somos chamados a manusear livros de uma biblioteca, seja qual seja o tamanho, com a finalidade de selecioná-los para “enxugamento” do acervo, com o objetivo de adequá-lo ao público-alvo.

Como atenuante, os “rejeitados” não irão à forca e muito menos à fogueira dos inquisidores. Eles ficarão livres para doação, sem regras, sem limitações, sem saudades, pois com certeza serão acolhidos, com o mesmo carinho, por novos lares.

Até aí parece simples. Porém o critério de seleção, não tem como se separar do perfil do selecionador.

Cada livro candidato é submetido a uma “devassa”, sem imputação de nenhum ato criminoso, onde em sua defesa, o autor, é o próprio advogado. Ao dedilhar as suas folhas, nos dizeres dos escritos, pode estar a sua “salvação”.

É interessante. Ao iniciar o processo achamos que será “facinho facinho”, bastando para tal uma decisão simples. Mas não é.

Os “inquisidores” poderiam manifestar suspeição, pois em suas veias correm “a céu aberto”, o gosto apurado pelas letras que formam palavras que se transformam em sentimentos impressos.

Vamos começar!

Me “associei” a outro ‘livrofanático’, meu amigo de fé camarada: Alberto Florêncio da Hora.

Ato 1:

Juntos, acompanhando o tum tum da emoção, silenciosamente fomos retirando das estantes aqueles que no entender individual comporiam a “deportação” e, sobre uma mesa alongada fomos colocando, os autores, em contato um com os outros, na certeza que à medida que o volume fosse crescendo, eles, estariam se perguntando:

“O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas…”

Ato 2:

Tal qual separados por um muro de histórias e vivências, nos colocamos literalmente, por trás dos livros.

E aí já refeitos do primeiro ato, demandamos as conversas entorno de cada livro que, agora sim, com o coração mais aliviado, fomos neles, rebuscando nossas próprias experiências vividas.

Claro que em cada página aberta, podemos encontrar citações que, lidas com o olhar misericordioso de quem não acredita em letras perdidas, seremos capazes de alterar o seu destino – o do livro.

Como exemplo, “Livro não é para ser limitado, para ficar preso. Os personagens foram criados para ganhar vida e só vivem quando lidos, portanto, não devemos manter os livros fechados, sem vida”, do natalense Lima Neto, salvou o ‘As Palavras e seus Sabores’.

Quanta ironia: logo com quem mantém a missão de não deixar os livros morrerem e, fazer com que seus personagens ganhem vida!

E nós, os ‘catadores’, quanta insegurança em decidir.

Uns tantos, logo na folha de rosto, dedicatórias que representavam momentos de “compromissos” entre o doador e o receptor de sentimentos e emoções, formavam ao lado da mesa, um grupo de “dissidentes” em “passeata” pela nossa sensibilidade, exigindo tolerância e respeito.

Deixe-os aí. Veremos amanhã como fazer.

Esse amanhã se transformou em muitos amanhãs.

Certamente, ao retomarmos à delicada tarefa, eles, ou autores, reunidos pela mesma angústia, terão seu julgamento amadurecido sobre cada um de nós – os escolhedores.

Até hoje, não concluímos.

Nosso coração, para tal, não é o de Ricardo.

Não disse que não era fácil!

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor (josuacosta@uol.com.br)

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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