Categories: Blog

Por que o mercado de petróleo da Venezuela é um dos motivos de tensão com os EUA

Os Estados Unidos promoveram um cerco à Venezuela, incluindo um bloqueio total a navios petroleiros nessa terça-feira (16). O petróleo está no centro da escalada de tensões entre os dois países, que se intensificou nas últimas semanas.

A Venezuela possui cerca de 17% das reservas conhecidas de petróleo do mundo, o equivalente a mais de 300 bilhões de barris — volume quase quatro vezes maior que o dos EUA, segundo órgãos internacionais do setor energético.

Durante seu primeiro mandato, em 2019, Trump impôs diversas sanções ao setor petrolífero venezuelano para reduzir as exportações e pressionar o governo de Nicolás Maduro.

Ainda assim, a Venezuela segue produzindo cerca de 1 milhão de barris por dia, recorrendo a “navios fantasmas” para exportar. As embarcações mudam de nome ou de bandeira com frequência para escapar das sanções e escoar a produção.

Após a nova tentativa de atingir uma das principais fontes de financiamento da economia venezuelana, a Casa Branca afirma que as medidas fazem parte de uma estratégia para conter o narcotráfico e outras atividades ilícitas.

Analistas, porém, afirmam que o acesso às amplas reservas petrolíferas venezuelanas é uma prioridade estratégica para Washington, sobretudo em um cenário de reconfiguração do mercado global de energia.+

Entenda o mercado de petróleo venezuelano e os impactos na economia do país.

A dimensão do mercado de petróleo da Venezuela

A Venezuela concentra a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, com capacidade estimada em cerca de 303 bilhões de barris, segundo a Energy Information Administration (EIA), órgão oficial de estatísticas energéticas dos Estados Unidos.

Esse volume coloca o país à frente de grandes produtores como Arábia Saudita (267 bilhões de barris) e Irã (209 bilhões). Boa parte do petróleo venezuelano, porém, é extrapesada, exigindo tecnologia avançada e investimentos elevados para sua extração.

  • Na prática, o potencial é enorme, mas segue subaproveitado devido à infraestrutura precária e às sanções internacionais que restringem operações e acesso a capital.

 

Segundo a Statistical Review of World Energy, publicação anual do Instituto de Energia (EI), a produção de petróleo da Venezuela despencou nas últimas décadas, de um pico de 3,7 milhões de barris por dia em 1970 para um mínimo de 665 mil barris por dia em 2021.

No ano passado, a produção registrou leve recuperação, retornando a cerca de 1 milhão de barris por dia, o que representa menos de 1% da produção global de petróleo.

Dependência histórica do petróleo

O petróleo moldou a economia venezuelana ao longo do século XX. Após grandes descobertas nas décadas de 1920 e 1930, o país rapidamente se tornou um dos maiores produtores do mundo e, em 1960, ajudou a fundar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Em 1976, o governo nacionalizou a indústria petrolífera e criou a PDVSA, transformando o setor em um monopólio estatal. Nas décadas seguintes, durante os governos de Hugo Chávez, grande parte da renda do petróleo foi destinada a programas sociais, reduzindo outros investimentos na economia.

Como resultado, entre 1998 e 2019, mais de 90% das exportações venezuelanas vieram do petróleo. Quando a produção caiu, o país passou a enfrentar sanções internacionais, agravando a crise econômica.

A queda acentuada nas receitas do petróleo também contribuiu para a explosão inflacionária na Venezuela. Segundo o Banco Central, em 2019 os preços subiram 344.510% — o que significa que produtos que custavam 1 unidade monetária passaram a custar cerca de 3.400 vezes mais.

Sanções, PDVSA e relações com os EUA

Os Estados Unidos mantêm uma relação histórica com o petróleo venezuelano desde os anos 1920. Na década de 1930, o país já atraía grandes companhias estrangeiras, sobretudo dos EUA e da Europa.

Com o avanço das sanções, essa presença diminuiu drasticamente. Hoje, a Chevron é a única empresa americana que ainda opera na Venezuela, graças a uma autorização especial concedida por Washington, apesar das restrições ao país.

PDVSA, que no passado assegurava a entrada de dólares na economia venezuelana, passou a sofrer cortes no próprio orçamento, interrompendo ciclos de manutenção e investimentos, o que agravou ainda mais a queda da produção.

Em 2002, a nomeação do economista Gastón Parra para a presidência da empresa gerou forte reação interna, que culminou em uma greve que paralisou a companhia por cerca de dois meses e resultou na demissão de aproximadamente 20 mil funcionários.

Petróleo e geopolítica internacional

Apesar das dificuldades, o petróleo continua sendo o pilar econômico da Venezuela. Segundo a Reuters, em 2024 a PDVSA faturou cerca de US$ 17,5 bilhões com exportações, com produção média ligeiramente acima de 800 mil barris por dia.

  • O petróleo venezuelano é considerado estrategicamente relevante para os EUA por ser compatível com refinarias americanas. Especialistas afirmam que o interesse de Washington vai além do discurso de combate ao narcotráfico e inclui objetivos econômicos, como a tentativa de reduzir preços de combustíveis no mercado interno.

 

Antes do endurecimento das sanções em 2019, os EUA eram os principais compradores do petróleo venezuelano. Após as restrições, a Venezuela passou a direcionar exportações para a China, em acordos de petróleo em troca de empréstimos, intensificando a disputa geopolítica na região.

Impacto do petróleo na economia venezuelana

A produção e exportação de petróleo continuam sendo fundamentais para o desempenho econômico do país. Estimativas baseadas em dados da PDVSA e da Reuters indicam que as exportações de petróleo responderam por cerca de 58% da receita da estatal em 2024.

No mesmo ano, a estatal faturou US$ 17,52 bilhões com exportações de hidrocarbonetos — área que envolve a produção e venda de petróleo e gás —, dos quais US$ 10,41 bilhões foram destinados ao Tesouro venezuelano em impostos e royalties, segundo a Reuters.

A economia venezuelana cresceu 7,71% no primeiro semestre de 2025, segundo boletim especial do Banco Central da Venezuela (BCV), impulsionada sobretudo pelo setor de hidrocarbonetos, que avançou quase 15% no período.

O boletim mais recente da instituição aponta que o PIB venezuelano cresceu 8,71% no terceiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. No período, a atividade petrolífera avançou 16,12%, enquanto a atividade não petrolífera teve alta de 6,12%.

Essa dependência, porém, gera vulnerabilidade. Um estudo do Instituto Tricontinental, com base em dados da Global South Insights, estima que as sanções lideradas pelos EUA causaram perdas de cerca de US$ 226 bilhões em receitas petrolíferas para a Venezuela entre 2017 e 2024 — valor superior ao próprio PIB venezuelano, hoje estimado em US$ 108,5 bilhões.

Apesar de deter uma das maiores riquezas naturais do mundo, a Venezuela permanece entre as menores economias da América Latina, com sua trajetória condicionada ao petróleo e às tensões geopolíticas.

Fonte: G1

Ponto de Vista

Recent Posts

Polícia Civil do Rio faz operação na Maré contra o Comando Vermelho

A Polícia Civil está no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, na Operação Contenção,…

3 horas ago

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,5230 DÓLAR TURISMO: R$ 5,7230 EURO: R$ 6,4900 LIBRA: R$ 7,4020 PESO…

4 horas ago

Ex-alcoólatra vira gari e fatura mais de R$ 7 mil por mês ao reciclar garrafas PET

Morador de Aparecida, no alto sertão da Paraíba, o gari Giorggio Abrantes transformou a luta…

5 horas ago

Em última reunião ministerial, Lula diz que 2026 será o ano da verdade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (17) que o governo precisa…

5 horas ago

Após chuva intensa, motorista de 58 anos desaparece em córrego em Guarulhos; Defesa Civil contabiliza sete mortes no estado de SP

Um entregador de 58 anos desapareceu durante a chuva forte que atingiu Guarulhos, na Grande São Paulo, na…

5 horas ago

Lançamento de foguete da base de Alcântara é adiado para sexta-feira

A empresa coreana Innospace anunciou que adiou o lançamento do foguete Hanbit-Nano, que ocorreria nesta quarta-feira (17) para…

5 horas ago

This website uses cookies.