A Hipocrisia do Conceito Seletivo e a Veracidade da Liberdade Depreciada –
Não existe liberdade de se expressar ou se locomover quando exercida pela opressão de dizer o que quer e fazer o que bem entende. Os indivíduos podem e devem ter sua liberdade, mas como escolheram viver em sociedades distintas pelos seus valores – e não isolados ou em “bolhas” – há de se reconhecer os limites individuais, respeitar a diversidade e saber lidar com o Interesse público.
Por entender que nada é mais racional do que se aceitar essa regra de convivência social, sem que me sinta ferido no meu direito à liberdade, percebo que tudo isso é absolutamente trivial para mim. É tão fácil de entender tanto quanto intuir que sede e fome se saciam com água e alimentos. Até mesmo os seres irracionais assimilam suas regras de convivência por alguma intuição natural, independente do que sejam sua liberdade e necessidade de subsistência.
Diante de tamanha percepção do que representa a liberdade e seus limites, causa-me espanto, nesses tempos de consciências nutridas por uma overdose de dopamina digital, assistir quem consegue transgredir o conceito e agredir a essência do que seja liberdade. Já tive oportunidade de tratar em textos esse ideário equivocado de se recorrer à ela para se impor e ditar opiniões, que no fundo contrariam os próprios princípios. Na realidade, pega-se carona numa falsa defesa para descontruí-la adiante. É o suprassumo de um exercício dialético, de viés tipicamente autoritário.
Por conta disso, arrisco-me na análise de dois exemplos bem atuais sobre o mau uso da liberdade. Tento mostrar com isso que há uma hipocrisia no conceito, justo porque a opção por fazê-lo seletivo tem mesmo um objeto autoritário. Nesse sentido, parece-me intencional e verdadeira uma aposta oculta por querer depreciar a liberdade, envolvida numa clara narrativa de verniz dialético. Enfim, são exemplos cabíveis e merecedores dessa análise os episódios da defesa da liberdade de expressão invocada por alguns depoentes da CPI, bem como, toda essa polêmica recente em torno da exigência de um certo “passaporte de imunização”, algo que estaria por ferir à liberdade de ir e vir.
No primeiro caso, ao se invocar o direito à liberdade de expressão, nada a discutir sobre a validade do argumento. Isso é tão comum que o trato como uma espécie de “cláusula pétrea” do tratado civilizatório da humanidade, um instrumento presente no meu imaginário. O danado é que há limites e responsabilidades inerentes ao livre exercício de se dizer o que quer. O sujeito pode até se declarar do modo que lhe convier, mas a partir do momento que interferir na liberdade do outro ou no interesse coletivo, é preciso que saiba que responderá por seus atos. Pode-se negar o que se revela como natural, acusar quem se queira e até usar meios agressivos, mas os limites impostos pelos contraditos precisam ser respeitados, sob pena de se infringir princípios que submetem os responsáveis ao crivo do crime. É inacreditável ter que assistir quem age com incontinência verbal aprimorar seus ‘instintos mais selvagens”, como se liberdade fosse.
Por sua vez, os casos de quem invoca o cerceamento da liberdade de ir e vir, por conta do controle de imunizados em ambientes sujeitos às aglomerações, é outro exemplo a destacar. Depois de negarem a pandemia, de reagirem contra o isolamento social, de boicotarem o uso das máscaras e menosprezarem as vacinas, o vilão passou a ser esse tal passaporte de imunização. Mais do que fazê-los entender que, essa liberdade de locomoção, em nada tem a ver com o direito de quem está em ambiente que careça de regras de segurança sanitária, seja o espaco privado ou não, aberto ou fechado. É justamente por essas e outras razões, que uma sociedade organizada apela para o Estado, na intenção do interesse coletivo.
Bem, o que posso extrair dos exemplos é exatamente o que já antecipei. Infelizmente, há os que ignoram seu papel na vida em sociedade e fazem escolhas hipócritas em nome da liberdade. Nada mais autoritário que faltar com a responsabilidade em nome do interesse público, na intenção de impor sua forma contrária de ser, pensar e agir junto aos que exercem com coerência sua cidadania.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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