Violante Pimentel

Um velho Sacristão de uma Igreja do interior acordava junto com o sol, e tinha como antigo hábito dar, todas as manhãs, miolo de pão aos passarinhos, que voavam debaixo dos oitizeiros.

As aves vinham em bandos, de sítios muito distantes. O velho e dedicado Sacristão chamava os pássaros por nomes engraçados e especiais: Miudinhos, pintadinhos, branquinhos, arengueiros, bandoleiros, interesseiros, e outros nomes carinhosos.

O velho Sacristão se divertia com essa alvorada, todas as manhãs, e gostava de ouvir os diversos gorjeios daquelas aves inocentes.

Certa manhã, quando os primeiros passarinhos chegaram ao jardim da Igreja, o velho Sacristão não os estava esperando, como sempre acontecia. Enquanto aguardavam que o benfeitor aparecesse, o bando foi aumentando, e nada do velho Sacristão aparecer.

Um pardal, mais decidido do que os outros pássaros, voou até à grade da janela e avistou o bondoso homem caído ao chão, ao lado da Pia Batismal.

Assustado, voltou para junto do bando, e, no seu linguajar, transmitiu aos outros pássaros a triste cena que tinha visto. Todos os pássaros, que ali estavam à espera do seu benfeitor, começaram a dar revoadas em torno da Igreja, emitindo gorjeios desesperados. Pareciam estar avisando aos moradores da comunidade o que estava acontecendo com o Sacristão.

De repente, os pássaros voaram até à torre da Igreja. Pousaram todos, então, sobre o seu enorme sino, e começaram a dar bicadas no bronze de que era feito.

A cada bicada, o sino repicava, e o badalar tornou-se ininterrupto. Os moradores da comunidade ouviram o sino tocar, o vigário foi chamado, e, com a ajuda dos fiéis, uma das portas da Igreja foi aberta.

Lamentavelmente, o velho Sacristão estava morto, caído ao lado da Pia Batismal. A comoção foi geral, e enlutou toda a comunidade.

O corpo do velho Sacristão foi velado na própria Igreja, que ficou repleta de fiéis. A praça, em frente à Igreja, serviu de pouso para todos os pássaros da redondeza, que mantiveram, durante todo o tempo, o mais profundo silêncio. Nesse dia, não se ouviu um só gorjeio. Os pássaros emudeceram de tristeza…

No dia seguinte, enquanto as pessoas da comunidade levavam o caixão do velho Sacristão à sua última morada, juntou-se ao cortejo fúnebre um enorme bando de passarinhos, totalmente silenciosos e tristes, como se estivessem sentindo profundamente a partida daquele abençoado benfeitor.  O bando acompanhou o enterro até o final.

Eram os mesmos pássaros que, todas as manhãs, recebiam das abençoadas mãos do velho Sacristão, o miolo de pão que lhes servia de alimento.

Violante Pimentel Escritora

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