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Onze meses após morte de família, relatório propõe retirada planejada de construções nas falésias de Pipa

Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estão próximos de concluir o relatório técnico de análise da situação atual das falésias de Tibau do Sul e Nísia Floresta. O documento conta com 12 proposições – entre elas uma transferência planejada das construções instaladas nas bordas, que foram identificadas como áreas de risco.

O estudo foi encomendado após a tragédia que vitimou um casal, o filho de sete meses e o cachorro da família em Pipa, no dia 17 de novembro do ano passado.

O documento está em fase de finalização, mas o pesquisador que coordenou os estudos, o geógrafo da UFRN Rodrigo Freitas, apontou algumas das proposições feitas, além de explicar parte do trabalho realizado pela equipe.

Entre as medidas que constam no relatório, está o acompanhamento de áreas de risco para a retirada de estabelecimentos e casas que estão instalados nas bordas das falésias, consideradas áreas de risco; o impedimento da chegada de carros e pessoas à beira das falésias; a correção na drenagem das estradas; e a utilização de placas informativas de maneira mais abrangente.

O estudo

No estudo, os pesquisadores coletaram material das falésias, que compreendem principalmente as praias de Pipa, em Tibau do Sul, e de Tabatinga, em Nísia Floresta.

Segundo Rodrigo Freitas, foi feito também análise através de drones, escaneamento com laser, “para identificar a descontinuidade, onde há fraturas”, além do mapeamento de cobertura do sol e das construções que estão próximas à falésia.

Outro trabalho realizado foi o de monitoramento da dinâmica marinha, ou seja, como a onda está quebrando e provocando a erosão, assim como se a praia está erodindo mais ou se está depositando.

Eles também avaliaram o contexto dos locais, que recebem muitos turistas. “Para se ter ideia, a gente fez a contagem de pessoas em Tabatinga e na parte da manhã de um domingo passam mais de 1 mil pessoas no Mirante dos Golfinhos”, pontuou.

As equipes também fizeram rapel nas áreas como forma de medir as camadas e a composição das falésias. Assim, é possível fazer uma leitura e um melhor diagnóstico do trecho. “Tudo isso pra gente identificar aquelas áreas que tem mais fraturas, que estão mais suscetíveis a ocorrência de deslizamento e aquelas áreas que estão mais estáveis”.

“A erosão na falésia é contínua, mas não ataca toda região de falésia ao mesmo tempo, então tem uma parte que erode, cai, e aí ele pode se estabilizar e passar anos estável. E aí outra parte mais a frente vai erodir”.

Segundo o pesquisador, as falésias têm recuado com o tempo. “Quando olhamos para isso numa escala de 20 anos, a gente observa que os limites das falésias eram bem diferentes do que a gente tem hoje. Então a falésia vai continuar recuando”.

Proposições

O geógrafo Rodrigo Freitas explica que esse recuo diagnosticado nos estudos indica que as falésias vão seguir recuando e outros pontos podem ser afetados.

Por isso, o relatório propõe uma transferência planejada das construções que são instaladas nas bordas das falésias, que, por serem ativas, vão continuar erodindo e uma hora essa manifestação chegará ao trecho das construções.

“Em grande parte dos trechos de falésia, tem construções. Então uma das coisas que a gente está propondo é um ‘plano de desinvestimento’. Ou seja, a gente vai medir essa erosão, acompanhar, pra identificar se pode estar tendo uma erosão maior. Pra que as pessoas que tenham construções ali, casas, bares, restaurantes, tenham um tempo pra migrar pra outra área, porque vai cair”, pontuou.

Segundo ele, o objetivo “é fazer algo programado com o menor impacto social, ambiental e econômico”, já que com o monitoramento da área é possível fazer essa desocupação de forma planejada.

O pesquisador explica que soluções como colocar muro de arrimo não são tão simples pois as falésias são protegidas por lei e impactaria também o turismo da região, já que os trechos são atrativos naturais para as praias.

“Lá na Praia de Cacimbinhas, em Pipa, só no período da manhã passam mais de 1,3 mil pessoas. Todas essas pessoas vão lá tirar suas fotos, colocar as belezas da falésia. Isso vai pras redes sociais e quem vê quer conhecer também. E assim a gente tem um fluxo turístico muito grande em função da beleza natural das falésias”.

Segundo o pesquisador, as falésias são ambientes estáveis, mas devem ser ocupadas de forma organizada, com distância da borda.

Outra proposta feita pela equipe é a correção na drenagem de alguns trechos da estrada para Tabatinga e também para Pipa. “A drenagem da estrada está carreando pra borda da falésia. Então num evento extremo de chuva, como aconteceu aqui em 2014, pode levar a danos”, explica.

“Nós temos uma diferença topográfica de 30 metros ali entre a praia e onde a estrada passa (em Tabatinga). Numa chuva intensa, a água da estrada está drenando, o material é muito friável e a erosão pode se instalar rapidamente em uma noite de chuva intensa. Seria para drenar para o outro lado”, pontuou.

Outro ponto apontado pelo geógrafo é que é importante, principalmente na faixa de areia da praia, ter placas de aviso sobre o perigo, já que, diferente do topo, é um trecho onde há risco de queda em toda extensão da falésia.

Segundo o pesquisador, todas as proposições feita são elas de baixo custo e também respeita a o fato da área ser protegida por lei.

Contexto socioeconômico

O pesquisador diz que o relatório também respeita uma questão socioeconômica do trecho. “Só em Pipa e Tibau do Sul tem mais de 8 mil empregos diretos relacionados ao turismo. Então é muita gente. E quanto isso não reverbera de empregos indiretos?”, pontua.

“São áreas de risco? São. É preciso fazer algumas intervenções? É preciso. Mas é regular o uso. O objetivo não é restringir, mas regular pra dar mais segurança”.

Ele diz ainda que “nenhuma dessas ações surtirá efeito se as pessoas não colaborarem”. “Lá em Pipa mesmo, tem um aviso de área de risco, de um bloco que pode cair. Mas a pessoa vai e tira a foto ao lado da placa”.

Continuidade do estudo

Segundo o professor, é necessário que, apesar da conclusão desse relatório, haja um acompanhamento da situação das falésias.

Os pesquisadores, por isso, vão buscar um investimento com o Ministério do Desenvolvimento Regional para que a pesquisa se prorrogue por pelo menos mais cinco anos.

“Uma das coisas que estamos propondo é fazer essa medição semestral. Na realidade, contínua, onde ela vai sendo acompanhado mês a mês, identificando aquelas áreas que tem maior risco, porque dá tempo pras construções que estão em cima serem relocadas, aquelas que estão próximas à borda da falésia. Dá pra gente ir monitorando e vendo onde o risco está ocorrendo mais”, explica.

Fonte: G1RN
Ponto de Vista

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