O TREM –

Anos atrás, o trem passava como um raio em Logradouro, um lugarejo que liga Nova-Cruz (RN) à Caiçara (PB), uma das fronteiras do Rio Grande do Norte com a Paraíba..

A meninada, todas as tardes, esperava o espetáculo da passagem do trem, o que para eles era uma diversão.
A velocidade, com que o trem passava por ali, impedia que eles vissem os passageiros nas janelas. Mesmo assim, davam adeus para eles e os mais medonhos distribuíam-lhes “bananas” (o gesto com o braço). Os meninos corriam ao lado do trem, enquanto podiam. Cansados, abandonavam a corrida e voltavam para as suas brincadeiras costumeiras. Jogavam bola, até o fim da tarde.

Zequinha, 12 anos, ficava sempre pensativo, depois que o trem passava. Não se conformava com a indiferença do maquinista, ao passar pelo lugarejo onde eles moravam, sem parar.

Muito inteligente e levado, o menino traçou um plano para obrigar o trem a parar em Logradouro. Somente assim, ele e os colegas poderiam matar a curiosidade e ver de perto a locomotiva “Maria Fumaça” e os inúmeros vagões.

Certa tarde, depois que o trem passou, Zequinha prometeu aos colegas que, no dia seguinte, iria fazer com que ele parasse em Logradouro. Só não disse como. Os colegas ouviram isso e duvidaram. No outro dia, depois da escola e do almoço, foram todos, como sempre, esperar a passagem do trem, para acenar ou dar “bananas” para os passageiros.

Quando o trem surgiu ao longe, no topo da ladeira, Zequinha se posicionou entre os trilhos, com os braços abertos e de frente para ele, como se desafiasse o maquinista a matá-lo ou frear. A meninada gritava, apavorada, mandando que Zequinha saísse do meio dos trilhos. Eram 3 horas da tarde. De longe, o maquinista avistou o menino, de braços abertos, impedindo a passagem do trem. A locomotiva apitava sem parar, ao mesmo tempo em que o homem tentava freá-la, num esforço sobre-humano.

Finalmente, o trem parou e o maquinista desceu da locomotiva Maria Fumaça, rangendo os dentes de raiva, louco para repreender o menino. Por um triz, o homem não o atropelou. Sem falar no risco que o trem correu de descarrilhar, causando transtornos aos passageiros.

Os meninos, ao verem o trem frear, fugiram em disparada, junto com o causador do quase acidente. Não tiveram tempo de ver o trem de perto, pois todos sumiram, com medo do maquinista.

Zequinha, a partir dessa façanha, tornou-se o líder da sua turma de amigos. Além disso, passou a ser conhecido na redondeza, como o menino que fez o trem parar em Logradouro.

Levou uma surra do pai, pela imprudência praticada, a qual poderia ter tido um desfecho trágico.

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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