O PERIGO EM DUAS RODAS – Alberto Rostand Lanverly

O PERIGO EM DUAS RODAS –

Sair de casa, em Maceió, com a chave do carro na mão, é quase como preparar-se para uma expedição, pois dirigir pelas vias da cidade, representa experiência de contrastes.

Ao sol do meio-dia, o calor castiga o asfalto e parece derreter a paciência de quem está ao volante, para mais tarde sob a lua, a brisa do mar suavizar o ar, e as luzes da orla criar atmosfera digna de poesia. Mas, seja na claridade intensa ou no encanto da noite, um elemento sempre quebra qualquer romantismo: os motoqueiros.

Eles surgem de todos os lados, como se o trânsito fosse um videogame em que vale tudo para chegar primeiro. Agitados, impacientes, quase sempre grosseiros, não raro estendem o dedo médio para motoristas que ousam seguir a velocidade da via sem facilitar seus desejos, para no instante seguinte, já desaparecem em zigue-zague, entre carros e ônibus, como se fossem personagens invencíveis.

O que esquecem, e este é o ponto mais trágico, é que não são super-heróis, mas sim de carne e osso, possuidores de famílias que os aguardam em casa, e que uma queda, mesmo banal, pode ter consequências irreversíveis.

Na ânsia de vencer o tempo, abrem caminho com gestos inquietos, como se com uma das mãos, quisessem até espancar o vento,  e de forma imprudente arrastando consigo o perigo, ameaçando tanto a própria existência quanto a de quem apenas cruzava o mesmo destino.

Assim, entre o sol abrasador e a lua generosa, o perigo não muda, muito pelo contrário, ele veste capacete, empunha guidão e insiste em acreditar que a fragilidade humana é um detalhe, enquanto isso, seguimos no volante, tentando chegar ao destino ilesos, e torcendo para que, um dia, o respeito seja tão veloz quanto eles.

Ao estacionar na garagem, final da jornada, resta a certeza de que conduzir veículo em nossa terra é, no fundo, um exercício diário de autocontrole. É saber que o volante não comanda apenas o carro, mas também o humor e a segurança de quem está atrás dele. E, quando finalmente se chega ao destino, há um suspiro silencioso, a gratidão de ter vencido mais um dia no asfalto, onde cada esquina guarda uma nova prova para quem se atreve a cruzá-la.

 

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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